Ao novo que chega
Os últimos dias do ano anunciam que o tempo se move em múltiplas dimensões. Na velocidade das comunicações virtuais ou na lentidão dos cartões e cartas tradicionais mensagens alvissareiras desejam paz e prosperidade nos novos dias que se avizinham. E uma pergunta inquieta nosso cotidiano nos momentos festivos de ceias, viagens, reuniões familiares e, para alguns, de reflexão e renovação cristã: o que fizemos nos dias do ano que agoniza? Quais projetos e sonhos ainda podemos inventar para o ano novo?
Nestes tempos de transição entre o velho que expira e o novo que se anuncia é producente perguntar o que fizemos para transformar o mundo aonde vivemos. Como cuidamos de nosso planeta. Continuamos repetindo gestos corriqueiros e banais que agridem e maltratam nossa terra. Como nos relacionamos com o lixo que, cotidianamente, produzimos. Estamos entulhando os descartes de nossa vida moderna em lixões que maltratam o subsolo com o chorume que escorre e se infiltra entre as veias da terra contaminando lençóis freáticos, inviabilizando solos e infertilizando a possibilidade da vida.
Prosseguimos carregando nossas vidas em sacolas plásticas atiradas ao vento e que permanecem testemunhas de nossa insanidade por várias gerações. Continuamos tratando a água como produto descartável e que escorre impunemente em ralos e torneiras negligentemente abertas como gargantas insaciáveis que engolem o bom senso e ameaçam a aridez de nossas possibilidades de futuro no planeta.
Não importa se neste ano que termina você não plantou uma árvore.
O ideal é que tivesse arborizado uma avenida, reflorestado uma rua, devolvido o verde a um beco qualquer. Mas, na impossibilidade desses gestos, conserve o propósito de não derrubar uma só árvore. Se não foi capaz de libertar um pássaro aprisionado em uma gaiola, assuma o compromisso de não construir nenhuma arapuca. Se não foi capaz de adotar uma criança esquecida em um orfanato ou desumanizada em ruas e fumaças de craque mantenha a convicção de brigar pela vida enquanto capacidade de construção de humanidade.
Se não foi capaz de abortar as guerras e conflitos que, em diversas partes do planeta abreviam vidas e enriquecem impérios, antecipe a esperança destruindo uma arma de fogo, ou até mesmo um estilingue. Se não foi possível abraçar a humanidade estenda a mão a que cruza teu caminho. Dê um bom dia ao gari que, nas primeiras hortas da manhã, limpa a sujeira de tua rua ou, à noite, recolhe o lixo. Sinta o conforto de um abraço compartilhado com um amigo apenas pelo prazer de sentir o calor humano sem convenções ou mecanicismos.
Não é preciso usar a bomba atômica para fazer a revolução. O gesto cotidiano da mudança de atitude tem um poder transformador mais potente. O compromisso com as minúcias que escapam a pressa do dia a dia. A atenção dispensada aos gestos verdadeiros que, pela simplicidade, tornam-se custosos a nossas pretensões de civilizados e polidos. Que o ano que começa possa ser o sintoma da mudança que, na intimidade de cada um, transforma a vida e, como uma onda avassaladora, remove a intolerância, o egoísmo e a indelicadeza.
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