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Abraão Vitoriano

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Ainda somos humanos?

02/04/2018 às 10h23

Na era das redes, um tiro passa rapidamente pelas frestas e podemos ser o próximo alvo.

Voltamos à idade da pedra lascada. Violências justificáveis, incitações ao ódio sendo tratadas como opiniões, crimes facilmente esquecidos e ataques gratuitos. Na era das redes, um tiro passa rapidamente pelas frestas e podemos ser o próximo alvo.

Para ser alvo, basta que você seja mulher e esteja sentada no ônibus para que um cara ejacule no seu rosto. E mesmo que ele seja pego em flagrante, não se preocupe, vinte quatro horas depois será absolvido sob o pretexto que esse ato execrável configura apenas uma “contravenção penal”, passível de punição com multa.

Para ser alvo, é necessário simplesmente que você “assuma” sua sexualidade ou uma foto sua vaze ou alguém implique com seu comportamento ou maneira de se vestir. Prontamente, a patrulha da moral e dos bons costumes mete o bedelho e o corpo inteiro onde nunca sequer foram convocados. Listam visões maniqueístas, dão conselhos, opinam sobre a programação de TV, sobre as novelas e do quanto essas tramas são uma afronta à família tradicional brasileira.

Para ser alvo, fale, mesmo sutilmente, que você é a favor da legalização da maconha, a favor do aborto, que comunga dos ideais feministas e do arco-íris. Uma chuva de comentários acintosos vai invadir suas páginas pessoais na internet e você será considerado o filho do Diabo que voltou para cumprir a profecia de destruir o mundo.

Para ser alvo, seja uma voz da favela, de preferência negra, advogue politicamente pelos direitos de seus pares e de toda população indistintamente, tenha uma visão consciente e um posicionamento claro: logo, logo irão te silenciar numa noite qualquer com vários tiros enquanto você volta para casa depois de um dia de lutas. E se as pessoas se rebelarem contra essa brutalidade inadmissível, surgiram outras, tantas outras, a criticar esse ato pelo tosco argumento de “quem defende bandido, merece morrer”.

Por todos os lados, os julgamentos acirrados e a ausência de diálogo têm nos conduzido a um deserto e as pedras, de tão lascadas, só servem para acertar nossa visão. Gostaria de dizer que ainda há esperanças, que ainda é possível educar nossas crianças e jovens para um mundo baseado nos princípios da bondade e da equidade, mas hoje meu coração está de luto, uma tristeza funda.

Quem sabe, seja nesta hora o (re)nascimento dos fortes. Eu creio ainda no pensamento de Mandela: “Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito e inspirar esperança onde há desespero.”. Ainda somos pessoas de corpo, alma e afeto, mesmo que o mundo nos mostre contrário. É preciso mudar o mundo e (re)encontrar o paraíso perdido. Eu AINDA creio e você?


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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