Agosto, mês do desgosto?
Por Francisco Frassales Cartaxo – A rima nos leva a pensar em coisas ruins. Daí tanta busca por situações nefastas sintonizadas com a rima. Em veste de pessimismo, agosto é sombria presença em nossas vidas. Será mesmo? Ora, agosto lembra tristeza e alegria. Vejam a revoada de cajazeirenses e cajazeirados, amantes de nossa terra, vindo todos os anos ao reencontro no famoso baile anual. Muda de nome, pode alterar o local, os músicos, a orquestra, as espécies de bebida. O mês não muda: agosto, semana para festejar o nascimento do padre-mestre Inácio de Sousa Rolim.
Há motivos para desgostos em agosto.
Cada um remexe na memória e encontra desgraças. Alinha um monte delas e conclui ser agosto mês ruim como a peste. Quem procura sempre acha, dizem. Espia o mundo lá fora. Aí sim chovem balas, atentados, epidemias, desastres, inundações, secas, guerras, batalhas, drogas, execuções, fome, mortes… o diabo a quatro! Um caminhão delas em agosto. A partir do meado do século XX, o tiro no peito do suicida Getúlio Vargas fica na tocaia como gigantesco exemplo da cisma com agosto.
– Só em agosto acontece isso!
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Mesmo não sendo verdade, a gente faz que acredita para dar veracidade à rima. E quem nasceu em agosto? O menino Ignácio no dia 22! como é que fica nessa história? Sempre há na família um nascimento no azarado mês. Nem precisa fechar os olhos para “descobrir” entre os entes queridos, um com a marca da oitava página do calendário.
Meu pai nasceu e morreu em agosto.
E agora? Ele inventou que foi no dia seis, mas comemorava no dia sete. Minha primeira esposa também faleceu em agosto. Cristiano Cartaxo, no dia 29, Helena, no dia 10. Eu pressenti a morte de meu pai. Antes da notícia ser transmitida por um tenente da Polícia – solene emissário do governador Ivan Bichara – quando desci no aeroporto Castro Pinto, eu lhe falei: Já sei, tenente, você veio comunicar que meu pai faleceu. O tenente tomou um susto, o senhor já soube, secretário? Dorgival Terceiro Neto, a quem eu acompanhara em viagem de trabalho a Paulo Afonso, testemunhou a cena.
Meu pai faleceu no quarto enfarto, lúcido, em 1975, aos 88 anos. Estou já “pegando” o velho poeta… Se eu fosse me guiar por essas duas tristes lembranças, uma na cabeça, a outra, fincada no coração, daria razão ao azar. Não ligo. Puxei à dona Belinha, minha mãe, que não morreu em agosto, um mês como outro qualquer apesar da malsinada rima.
Sócio fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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