Açude Grande: o xodó de Cajazeiras completa 101 anos
“As tuas águas cinza, perfumam as manhãs serenas, As tuas águas azuis, fornecem a energia das tardes
As tuas águas cristalinas, contemplam o mais belo sol, As tuas águas escuras, esperam as noites chegarem,
Vem, vamos todos, Ver a lua nas águas, do grande – velho açude.”
O Açude Grande já sangrou? A cada nova chuva esta indagação permeia o imaginário do povo de Cajazeiras. Suas águas represadas parecem simbolizar as nossas angústias. Quando ele não vomita as suas antigas águas ficamos desesperados. Esta preocupação já foi motivo de inquietação do poeta Cristiano Cartaxo, que em seus versos buscava as nuvens favoráveis e abundantes de água para matar a sede do velho açude:
“Para onde vais, fugindo assim às pressas,Tu que és filha daqui? Não te comove, O aspecto bruto, o horror medonho dessas regiões em que há seis meses que não chove?” O chão, o céu, os pássaros em coro, Rios, açudes, tudo mais enfim,Ressuscita à harmonia do teu choro, O próprio sol se ameiga ao ver-te assim. Nuvem, piedade! Ao menos com o manto, De tuas sombras cobre os sertões nus, Para que o sol não queime a terra tanto, E o homem não viva amaldiçoando a luz…”
O choro das nuvens este ano não está sendo muito forte. Os riachos e córregos não estão vomitando águas em abundância e o nosso Açude Grande ainda não transbordou. Mas sempre houve uma inquietação de nossos poetas sobre ele a exemplo de Irismar di Lira, que assim o canta:
“O Açude Grande, mais belo que qualquer açude, banha a minha aldeia. O Açude Grande, maior que qualquer açude, Água a minha veia. Voltarei a contemplar o seu crepúsculo (para que a dor em meu peito abrande) Quero afogar as mágoas, deste coração minúsculo, nas águas mansas do Açude Grande.”
Quando ele sangra as multidões correm para ver o espetáculo das baronesas a bailar sobre as suas águas que passam por baixo de sua ex-histórica ponte e descem pelo canal exprimidas, sufocadas e sem destino.
Por que o povo desta cidade gosta tanto do Açude Grande, de contemplar o seu por sol, que segundo os poetas é o mais belo do mundo? A importância deste açude remonta aos fundadores da cidade; Vital e Ana, cujo filho Padre Rolim, nascido em 22 de agosto de 1800, inicialmente o construiu e em 27 de dezembro de 1915, ano de uma grande seca, teve inicio a sua ampliação pelo governo federal, supervisionado pelo engenheiro Coelho Sobrinho, que ali investiu 73:201$425, cujas obras foram inauguradas festivamente em 16 de abril de 1916 e recebeu o nome de “Senador Epitácio Pessoa”.
Parte de suas águas acumuladas foi formada pelo suor e pelas lágrimas dos 300 “cassacos” famintos contratados para a sua construção. Suas águas também mataram a sede do povo de Cajazeiras até a década de sessenta.
Cajazeiras é a única cidade que conheço que se dá ao luxo de ter um açude com a capacidade de armazenar 2.599.600 metros cúbicos de água que não tem serventia alguma. Suas águas estão poluídas pelos esgotos de parte da cidade e impróprias para o consumo humano. Qual será o dia que ele deixará de ser apenas cantado em versos e poemas para ter uma verdadeira utilidade, inclusive de ordem econômica, transformando-se num açude onde existam muitos peixes para ajudar e contribuir na formação de renda e trabalho para muitos cajazeirenses?
É preciso tornar as águas do açude grande potável, para que o velho ditado volte a funcionar: “quem bebe as águas do Açude Grande, jamais esquece Cajazeiras”.
Salve os 101 anos de existência do Açude Grande!
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