A senha é simples e fácil
No meu tempo de estudante universitário, integrei o Centro Acadêmico Patativa do Assaré, do Curso de Letras da UFC. Na época, existiam pelo menos três correntes políticas majoritárias no DCE, os leninistas, os trotskistas e os stalinistas. Os anarquistas não chegavam a 10%. E eu era anarquista.
Como o inimigo número um do país era a Ditadura Militar e as maiores bandeiras da esquerda era o repatriamento dos exilados e a Eleição Direta para presidente, nós íamos para a rua e enfrentávamos os últimos anos de regime militar. Foi nessa época que conheci João Amazonas, Nelson Werneck Sodré e Luís Carlos Prestes, um homenzinho que, aos 90 anos, arrastava multidões para as praças e tinha o discurso dos bravos defensores da pátria. Dois destes eram militares, o Prestes e o Sodré. Olha que ironia! Foi nessa época também que as polícias militares começaram a servir aos interesses dos ricos, massacrando pobres, negros e pardos nas favelas e nas periferias.
Grande parte do contingente dos presídios, a maioria pardo e negro, presos nas décadas de 80 e 90, morreram nos presídios de doenças ou de violência do Estado. Coincidentemente, o narcotráfico cresceu e se organizou dentro dos presídios com o sistema fechando os olhos para a sua atuação. Tendo as liberdades democráticas restauradas, era preciso realizar as reformas que a sociedade precisava para sair do atraso e do obscurantismo dos governos militares. Era urgente uma reforma fiscal, previdenciária e política, nos mesmos moldes das que se fizeram na Educação, com a participação dos conselhos e da sociedade organizada da área. Cada setor deveria reunir a expertise existente para depurar o sistema tributário, social e político, transformando o Brasil em uma potência mundial. Mas a transição dos militares para a democracia teve um empecilho inicial. José Sarney. Com a morte de Tancredo Neves, Sarney, o vice, assume e inicia a redemocratização do país. O homem forte do Maranhão era um dos filhotes da Ditadura.
Veio a era Collor, o Caçador de Marajás. Cercado de bandidos em todos os níveis, Collor foi traído pela sua arrogância e pela sua ligação com a máfia das Alagoas. FHC seria o presidente que modernizaria o país, mas seu compromisso com o FMI e com o Banco Mundial, quase leva o país à bancarrota. Seu partido, o PSDB, é um dos que mais está envolvido em escândalos de desvio de bilhões de reais.
Chegou a era Lula, esperança dos pobres e desvalidos. Pelo menos foram quatro anos de muita ação governamental, realizando aquilo que os outros não fizeram. Foi então que veio uma eleição para a sucessão do seu segundo mandato. A escolha recaiu sobre Dilma Roussef, uma mulher honrada, mas completamente inexpressiva na política. Lula pensava que ia continuar decidindo como grande líder que se tornou.
Enganou-se. As reformas adiadas, o aparelhamento dos órgãos públicos pelo partido e a negociação com o Centrão e com as raposas mais astutas da política nacional, fizeram Lula trocar o Analfabetismo Zero, o Fome Zero, a Segurança Pública humanizada, a diminuição da desigualdade social com Educação massiva e de qualidade (para libertar o povo deste atraso que se espelha hoje em dia), em acordos com Sarney, Maluf et caterva. Cuba fez uma revolução nos costumes nos quatro primeiros anos de Fidel Castro. No restante do governo de Fidel, Cuba se tornou uma referência em Educação, Saúde e Resistência ao bloqueio dos Estados Unidos.
A ascensão do racismo, da estupidez e do bolsonarismo não é produto unicamente do Bolsonaro. Este ocupou o congresso nacional por falta de alguém que pudesse defender as bandeiras ausentes dos povos das favelas e das periferias. Bolsonaro era eleito porque havia corrupção, violência, acordos espúrios entre esquerda e a podridão da política. O PSOL não surgiu porque o PT cansou de lutar. O PSOL surgiu porque o PT se tornou igual aos outros partidos governistas e se aliou ao grande capital.
Esta análise é de um anarcopoeta que esteve em todas as lutas da esquerda desde o fim da Ditadura Militar. Quando vejo, hoje, a esquerda se dividindo para combater o Fascismo, temo que o nome do filme que querem estrelar deixe de ser “Solução para o Brasil” para “Apocalipse brasileiro”.
Vez por outra, vem à lembrança as ideias de um padre da minha época de estudante, que dizia: Meu filho, não existe transformação social sem derramamento de sangue. País nenhum se transformou jogando pétalas de rosas nas bombas e nos fuzis. Este padre me fez ver Deus nos olhos dos favelados, nos catadores de rua, nos órfãos revirando latas de lixo e nos sem teto que escoravam suas empanadas, papelões e tábuas debaixo dos viadutos.
Querem derrotar o Fascismo? A senha é simples e fácil. #ForaBolsonaro. Depois a gente monta um projeto com quem realmente pensa o Brasil sem miséria da política e sem os políticos canalhas.
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