A quem serve a paz
Ontem foi o Iraque, antes o Afeganistão, o Irã, a Coréia, o Vietnã. Agora, a Síria. Em nome da defesa da democracia e da liberdade, os Estados Unidos perfilam apoios e aliados buscando justificativas e legitimidade para, com o uso da força e da supremacia bélica e militar, impor sua hegemonia sobre um amedrontado país que, mergulhado numa guerra civil sangrenta e irracional, vem patrocinando cenas cotidianas de horror e dor, sobretudo, nestes tempos em que as guerras também se transformam em portentosos espetáculos midiáticos.
No centro do palco está a Síria. País encravado no Oriente e que tem históricas referências, sobretudo, em razão de ter sido cenário de inúmeros episódios bíblicos. Um país que, a exemplo de muitos outros dessa região, também secularmente, proporciona manifestações de ódio religioso alimentado pela intolerância e pela intransigência de religiões que se arvoram em senhoras absolutas de deuses e de vontades divinas e, em nome dessa superioridade, convertem irmãos em inimigos, semelhantes em alvos de bombas e de bombardeios. Uma arrogância que degreda e exila milhões de pessoas que são desterradas de suas comunidades e sobrevivem, precariamente, em campos de refugiados, sem referências e sem qualquer garantia de estabilidade e de preservação da vida e da dignidade de humanos.
O argumento de uso de armas químicas se dissipa e se fragiliza ante a constatação de que essa perversa estratégia de guerra vem sendo empregada, fartamente, por todos os lados envolvidos no conflito. E, mais estarrecedor é termos a consciência de que, não muito distante, os americanos foram os pioneiros e, portanto, os perversos mestres, desta macabra arte. Recordemos, como necessário exercício de justiça histórica, a bomba atômica na Segunda Guerra Mundial, o uso de gás mostarda e napalm nos guerras das Coréia e do Vietnã.
Não devemos negligenciar, em nome de uma pretensa ação humanitária, os milhares de vítimas que se somam a essas tragédias e que são justificadas como a necessidade de manutenção da paz. É necessário desnudar a paz de sua roupagem ideológica, retira-la do panteão de atributo e prerrogativa de usufruto de todos, em todas as partes do planeta.
Sejamos sinceros e reconheçamos que a paz, para americanos, ingleses, franceses, alemães, tem uma conotação inspirada em idéias de justiça e liberdade, alicerçadas sob o limbo do trabalho escravo, da colonização de povos e territórios, da dominação cultural e religiosa, da tecnologia que domina, vigia e disciplina. Uma paz que se sustenta graças a inquietação, ao desassossego, ao sobressalto constante de milhões de pessoas. Uma paz que veste as cores da tortura, do estupro, da limpeza étnica, da ocupação militar de espaços e corpos.
Uma paz que transita nas franjas tênues do lamacento território das tramas e teias das relações e imposições dos vitoriosos e dos conquistadores que, usando como escudo, a convincente retórica da defesa da paz e da liberdade, aprisiona a todos nos ardis do medo e da guerra.
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