A Paraíba e seus problemas
Por Francisco Frassales Cartaxo – A Paraíba e seus problemas foi escrito em 1923, quando José Américo de Almeida tinha apenas aos 36 anos, mas já adquirira sólida base de conhecimento no Seminário, na Faculdade de Direito do Recife. E experiência como advogado, promotor público, procurador geral do estado, consultor jurídico. Foram anos de muita leitura na calmaria de Areia e na acanhada cidade da Paraíba. Mais do que isso, nascido nas terras úmidas do brejo, ele teve a oportunidade de, ainda menino, passar temporadas em fazenda de gado de familiares no contrastante sertão esturricado, quase parede-meia com a verdejante serra.
Vale relembrar isso.
A Paraíba e seus problemas brotou do cabedal imaterial do autor, somado à extraordinária capacidade de ver bem, que é mais do que ver tudo, porque é ver os que outros não veem, como ele mesmo alertaria, em 1928, ao lançar A bagaceira, romance revelador de novo romancista, na crítica glorificante de Alceu de Amoroso Lima. Cinco anos antes, o governador Solon de Lucena (1920-1924) incumbira José Américo e Celso Mariz de preparar um estudo para oferecer a Epitácio Pessoa, que acabara de deixar a presidência da República (1919-1922). Lucena queria exaltar as ações realizadas na Paraíba, em sinal de gratidão de sua gente ao chefe supremo e benfeitor. Assoberbado de outras tarefas, Celso Mariz se afastou do trabalho.
José Américo via longe.
O que seria narrativa laudatória tornou-se a maior obra do filho de Areia. Pelo conteúdo e abrangência, pela capacidade de perceber a realidade, numa época de frágeis ferramentas analíticas. Mercê, também, na maneira de organizar e expor a diversidade do mundo real, no emaranhado de questões inerentes a nossa sociedade, um século atrás. Por enxergar limitações e potencialidades da terra ignota, do clima, do martírio das secas, do cangaço, do homem do Norte, da significância da água, dos transportes. Mas ainda, da ação do homem, da desordem e incúria do poder público. A leitura correta do livro exige, portanto, um olhar que o enquadre no contexto predominante em seu tempo.
Noutro plano, em A Paraíba e seus problemas se encontram os fundamentos para o deslanche do homem de letras, do político, que quase chega à presidência da República.
Pode-se não gostar de José Américo.
Para isso, há razões objetivas, ideológicas, políticas, partidárias. Pessoais também. Pode-se até agir como fez o jovem deputado João Agripino, que, da tribuna da Câmara, sobraçando documentos, com voz cavernosa, narrou malfeitorias do governo Zé Américo (1951-1954). Listou mesquinhas perseguições a aliados de sua base eleitoral. Depois, divulgou o panfleto: Desmascarando falsos pregoeiros da democracia.
Mesmo assim, impossível negar o valor, a grandeza de José Américo.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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