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Adjamilton Pereira

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A marca da generosidade

03/11/2012 às 01h17

A mais remota lembrança que tenho de Tia Dora refere-se aos anos de 1960 quando, com apenas cinco anos de idade, passei alguns meses na casa de meu avô Manoel Firmino cuidando de minha irmã Bernadete, que ainda não caminhava e minha mãe não tinha condições de dar atenção porque tinha dado a luz a nossa irmã caçula, Maria do Carmo. Nesse período quase que diariamente ia a casa de Tia Dora, que era próxima. Ali, sempre era recebida com um gostoso copo de leite, servido em um grosso copo de alumínio, e adoçado com açúcar, produto ainda incomum as nossas poucas posses nesse tempo.

Essa mulher que, superando a solidão e a tristeza das perdas e das saudades, comemora noventa anos neste dia 04 de novembro. Tia Nora, como é mais conhecida Francisca Moreira de Queiroga, nasceu em 04 de novembro de 1922, no Sítio Segredo, no municio de Sousa, filha de Joel Moreira de Sena e de Maria Moreira de Figueiredo, conhecida por Marica, irmã de minha avó materna Francisca Moreira de Figueiredo, Madrinha Chiquinha. Batiza-se naquela comunidade, no dia do casamento dos tios Sabino e Totonha, tendo como padrinhos o tio Hilário Moreira de Figueiredo e a avó Bernardina Moreira de Sena.

Em 1932, no rigor de uma das mais calamitosas secas que assolaram esta região, Joel e Marica reúnem a prole e decidem vir morar no Sítio Cipó, à época município de Cajazeiras, onde já residiam vários tios seus. Aqui, Tia Dora cresce como toda moça daquela época aprendendo apenas as lições preliminares para assinar o nome e dedicando-se ao trabalho diário em casa e, muitas vezes, ajudando o pai no trabalho da roça. Ao lado das primas, filhas de Manoel Firmino, de Chico Martins, de Tio Cazuza, de Tio Romualdo, tocavam a vida entre as tarefas de lavar roupa do açude grande de Chico Martins, das conversas animadas e das inocentes brincadeiras nas renovações e reisados, enquanto, entre cochichos, sonhavam com os belos moços com quem formariam suas futuras famílias. Entre primos e conhecidos, faziam suas especulações.

Moça, o coração de Tia Dora se encanta pelo primo José Moreira de Queiroga, filho de Manoel Moreira de Queiroga (Manoel Firmino) e de Francisca Moreira de Figueiredo (Chiquinha). O namoro transcorre com o tempo necessário para o conhecimento e a construção de afinidades e, em vinte e cinco de dezembro de 1943, Zé Queiroga e Dora casam-se numa solenidade que reuniu parentes e amigos.

Não sendo agraciados com filhos biológicos, Tia Dora e Tio Zé Queiroga abrem o coração para a generosidade e acolhem a filha Honória Aparecida de Queiroga, que veio trazer alegrias e preencher a vida do casal. Mais tarde, também acolhe com a generosidade de mãe Maria Mariene de Queiroga, além do neto Wellington, filho de Honória, que foi arrebatado da vida de maneira inesperada em pleno frescor da juventude.

Ao celebrar os noventa anos de Tia Dora o mais verdadeiro e espontâneo sentimento que nos move é a sua incomensurável capacidade de amar e de servir. Todos nós, seus sobrinhos, sempre fomos acolhidos em sua casa com gestos de carinho e afago e também com surpreendentes agrados, como um pedaço de bolo, uma fatia de doce, das latas que ela guardava por anos e que tinham sido arrematadas nos leilões da capela ou presente de alguma cunhada. O sabor dos almoços de domingo, dos capões gordos e do feijão temperado com nata, quando vínhamos com nossos pais passar o dia em sua casa. Também é forte a lembrança de sua imagem sentada na janela da cozinha debulhando as flores de açafroa para fazer tempero ou batendo garrafas de nata para fazer manteiga.

Para quem já percorreu tão longo percurso fica a certeza de que seu estilo de vida, sua capacidade de amar e de doar-se deve ser o mais verdadeiro presente que dela recebemos. Que sua coragem seja fortaleza para todos que com ela convivem e dela sempre receberam o carinho verdadeiro e o afeto de Tia. A bênção, Tia Dora. É o que desejamos de você e para você.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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