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Abraão Vitoriano

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A indústria da seca está viva

27/09/2010 às 09h26

Não tenho dúvida, de forma alguma, que neste sertão paraibano, marcado por uma seca impiedosa com suas nefastas conseqüências, a velha máquina de fazer votos, a indústria da seca, continua mais viva do que nunca, embora de forma camuflada, com uma nova versão, digamos assim, modernizada, devido a um certo grau de consciência política adquirido por muitos eleitores,e a nova lei de combate à corrupção eleitoral.

Neste ano, infelizmente, não houve inverno. Foram poucas as chuvas, conseqüentemente, Lavoura não houve, nem tão pouco colheita, e a situação dos sertanejos é dramática. Tanto para quem mora na zona rural, como para quem mora na cidade. Trata-se de uma aflição, apesar de alguns programas benéficos do governo federal. Digo tudo isso, porque nas minhas andanças de pastor, tenho percebido essa realidade nua e crua. Realidade de cortar coração. No sertão da Paraíba, quem disser que não há fome, está redondamente enganado. Afirmo porque tenho conhecimento de causa: constantemente, visito as famílias, converso com elas, ouço seus clamores, suas aflições, seus desabafos. Vejo lágrimas banharem seus rostos queimados pelo o sol causticante. Seus desabafos fazem tremer qualquer coração humano: – padre, tenho vontade de morrer, porque não tenho nada para dar para meus filhos”, desabafo de uma mãe da zona rural.

Sensacionalismo? Emocionalismo? Que nada! Pura realidade. E é em cima dessa dura realidade social, que aflige milhares de sertanejos, que posso afirmar, categoricamente, que a indústria da seca ainda é uma realidade presente nestes tempos de eleição. Muitos candidatos, sem espírito cristão, imbuídos tão somente do desejo de conquistar o poder, que lhes confere a eternas regalias: muito dinheiro, passagens de avião, hospedagem nos melhores hotéis, carro importado, etc., aproveitam-se dessa situação, com suas eternas promessas fajutas, mirabolantes, sem esquecer de suas “caridades” eleitoreiras.

Hoje, sábado, entrando numa casa humilde para visita, a dona da casa falou-me: seu padre, faz dias que não tomo meu remédio, porque acabou.Estou esperando os candidatos passarem por aqui para eu pedir meu remédio”.Então, pergunto: quem não vai querer tirar proveito dessa tétrica situação? Aliás, numa luta fratricida para conquistar o poder, quanto mais miséria, melhor.

Aqui no meu sertão, fome, sede, miséria, desemprego, doença são fontes riquíssimas de votos. Ora, quanto mais fome, mais voto; quanto mais sede, mais voto; quanto mais miséria, mais votos; quanto mais doença, mais votos. Também, quanto mais dependência econômica, melhor ainda. Não é por acaso, que muitos que estão no poder fazem questão de manter o povão na sua eterna dependência. Pense, caro leitor, como esta realidade de morte é essencial para os maquiavelistas chegarem ao cobiçado “trono”. Com base nesta análise sociológica, digo, não nego: meu sertão continua sendo o chão rachado que não produz milho,feijão,arroz,jerimum,melancia. Aqui, neste ano, nada foi colhido. Nada, nada, nada! Até os animais berram, como quem pedindo clemência aos céus. Porém, uma coisa este torrão nordestino está produzindo em abundância: votos! E a briga por esses votos é grande.

Ninguém se engane, a indústria da seca não morreu. Está mais viva do que nunca. Pois, este Sertão velho seco, rachado, com seu sol causticante, sem água e sem colheita, árvores secas que não fazem sombras nem para os humanos nem para os bichos brutos, com sua gente envelhecida antes do tempo, continua sendo prato cheio para quem faz do sofrimento do povo oportunidade ótima de tirar proveito político-eleitoral.

Numa situação dramática desta, onde lágrimas substituem a água para beber, resta-nos ouvir o clamor do povo, na voz do profeta das lamentações: “ó vós, que passais pelo caminho, vede e julgai se existe dor igual, a dor que me atormenta”. Sensibilizados diante desse grito pungente, temos o compromisso cristão e cidadão de levar o sertanejo a tomar consciência de sua cidadania (politização) e, assim, lutar, sem medo, pelos seus direitos mais elementares como: água, pão, moradia, terra para trabalhar, assistência médico-hospitalar, educação de qualidade, emprego. Politizados, vão libertar-se, de uma vez por todas, da famigerada política assistencialista e dos politiqueiros de plantão.

No dia em que todos os sertanejos forem politizados, a indústria da seca será coisa do passado. Por enquanto, é uma realidade!

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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