A folha da madrugada
Nova Era é o nome de fantasia do jornal oficial do município de Cajazeiras. Um jornal semelhante ao Diário Oficial da União ou ao Diário Oficial do Estado. A lei que o criou previa circulação quinzenal ou “a critério do Poder Executivo.” Na prática, nunca foi quinzenal nem mensal nem semanal. Circulou ao sabor de conveniências do prefeito. A periodicidade é tão irregular quanto o juízo do crioulo doido. Chegaram a confeccionar diversos números em um só dia, com datas diferentes, é claro, para “normalizar” situações anômalas.
Ao longo de 36 anos, o jornal oficial foi-se transformando numa espécie de “folha da madrugada”. Ninguém sabe ninguém viu… Fantasma da meia noite. Isso é grave porque grande parte das decisões tomadas pelo prefeito de Cajazeiras só tem valor legal se os atos correspondentes são publicados no Nova Era. Não falo em “folha da madrugada” para atingir apenas a gestão da prefeita Denise Oliveira. Essa prática vem de longe. Perguntem ao vereador Marcos Barros! Quando o radialista e professor Chagas Amaro exercia o mandato de vereador, precisou requerer ao prefeito, por ofício, a entrega de exemplares do Nova Era à câmara municipal. Incrível. O poder legislativo municipal, que tem a missão constitucional de fiscalizar, nem sequer recebia o jornal oficial de Cajazeiras… Pode um negócio desses? Total deturpação da finalidade precípua do veículo oficial que, aliás, dá vida jurídica a decisões administrativas do município, consubstanciadas em leis, decretos, editais, avisos etc. do poder executivo, além de divulgar matérias institucionais.
Cadê a transparência? Muito se fala de transparência. Abusam da palavra transparência. Políticos, com mandato ou sem mandato, alardeiam o propósito de agir à luz do dia. Até secretarias são criadas para operar a transparência. Engodo. Criam penduricalhos burocráticos para enganar a população. O leitor pode achar que este cronista está com implicância ou saudosismo. Nada disso. No mundo virtual de hoje ainda cabe a produção de jornal impresso. A Justiça já incorporou tecnologias da informação, liberando-se do seu universal apego a papel. Ótimo. Em nenhum instante desejo, com estas notas, defender posição saudosista e antiquada de restaurar o antigo jornal Nova Era, do tempo do prefeito Francisco Matias Rolim, enriquecido com as lições do professor Antonio de Souza. Não é isso. Defendo que se cumpra a lei de 1977, aliás, nunca revogada. E se recorra agora, também, aos recursos tecnológicos eletrônicos e a ferramenta da internet. Contanto que se faça com regularidade e decência. Há em nossa terra muita gente qualificada, experiente. Nem é preciso apelar para inventores da roda lá de fora. Menos ainda da China ou da Coreia.
Apesar de todos os desvios conhecidos, o Nova Era é manancial importante. São 36 anos de circulação, capenga é verdade, mas ali está um pedaço significativo da história política e administrativa de Cajazeiras. A propósito, quem cuida na prefeitura da coleção do jornal Nova Era? Esta pergunta eu fiz a diversos amigos, experientes homens públicos. O máximo que consegui apurar leva a Zezinho, o mais antigo servidor da prefeitura de Cajazeiras, salvo engano, desde o tempo de Otacílio Jurema. E se Zezinho não souber do arquivo? Por favor, não me mandem perguntar no Posto Ipiranga…
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