A ditadura do parecer
Vivemos numa sociedade curiosa que privilegia o “parecer” e desconsidera o principal, o “ser”, numa explícita homenagem à hipocrisia. Esta, elevada aos altares de todos os corações, sem nenhuma exceção, faz com que também os homens bons caiam no erro de desqualificar um excelente profissional somente porque seus trajes não são os da última moda, ou porque tem pouco ouro dependurado no pescoço, nas orelhas ou nos pulsos.
Reafirmo: todos nós temos certa inclinação para o parecer. Veja se não é assim. Numa loja, um cliente “engravatado” procura um atendente bem depois de um outro cliente “pé na chinela” que já estava sendo atendido. Qual dos dois será melhor – e mais rapidamente – atendido? Não preciso responder.
Um médico, ou advogado, por exemplo, que não tenha um carro importado (ou no mínimo um nacional de luxo), ou que não ande coberto de ouro, ou num terno muito bem alinhado, num jaleco impecável e com sapato de “bico fino”, para a maioria dos clientes não é um bom advogado ou um médico “dos bons”. Contudo, um dos maiores juristas brasileiros que já conheci, guiava, ele mesmo, seu fusca enferrujado pelas ruas de Brasília.
Aquele rapaz de terno amarrotado que conheci na sede da CNBB e que fez tremer as presidências do Congresso Nacional e da República, ao apontar e perseguir, como Procurador da República, os desmantelos administrativos aos quais já nos acostumamos. Falo do Dr. Luiz Francisco Fernandes de Souza que, naturalmente, foi delicadamente “retirado” do cenário nacional. Certamente, porque não “é” competente. Também, quem o mandou andar num fusca, quem mandou não ajeitar aquela gravata?!?!
Temos que acabar com a “ditadura do parecer”. Antes de parecer, “ser”, que é o mais importante. Até porque ninguém pode “parecer” sem “ser”; e a “parecer”, melhor, antes disso, “ser”.
Ser honesto, transparente, fiel, trabalhador, justo, temente a Deus, cumpridor dos deveres. Depois, e só depois, se preciso for, parecer tudo isso. Mas, antes, “ser”.
Felizmente, ainda há homens e mulher que, de fato, “são”, não apenas parecem. Eles são o sustentáculo do mundo.
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