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José Anchieta

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A Chave

23/04/2009 às 15h03

Por Padre Renato

Todos temos direito à inviolabilidade de nossa vida privada que, por ninguém, pode ser transgredido. Os diplomas legais, desde a Constituição Federal, passando pelo Código Penal Brasileiro e pelo Código de Direito Civil, prevêem regulamentação para manutenção de tal direito e punições para os que insistem em não cumpri-lo.

Que é “vida privada”? Permitam-me uma definição: é tudo aquilo a que atribuímos como sendo de nosso mais restrito acesso e que consideramos tão pessoal que deve ficar apenas na esfera da individualidade. Compartilhar esse algo com um terceiro requer confiança que é, sem sombra de dúvidas, um sentimento bonito que traz consigo o imperativo da responsabilidade de ambas as partes.

Qual seria o maior símbolo da privacidade?

A chave.

“Guardar um segredo a sete chaves”, conforme o ditado popular, expressa em poucas palavras o que quero dizer.

Que tipo de chave? Ora, chave de todo gênero, desde a mais simples, como aquelas que abrimos portas e cofres, até as mais importantes, como aquelas que abrem o coração, dando ao portador não apenas trânsito livre para ir e vir, mas também uma autoridade sobre aquilo que é objeto da confiança ali representada pela partilha de vida, o próprio “eu”.

Confiar, entregando a outra pessoa a chave do coração, significa outorgar-lhe a faculdade de conhecer os mais íntimos enredos daquilo que definimos como “vida privada”. Assim, detentora desta função, que aos poucos também vai se tornando também um ofício, uma obrigação não vinculante, pois fundamentada na liberdade, eis que surge um laço bonito de reciprocidade, pois à medida que confio, passo também a ser depositário da confiança daquele em quem confio. O outro confiará em mim, pois nada mais tenho a esconder-lhe e o que diz respeito à individualidade começa a ser partilhado com quem se confia.

Quando entrego minha chave a alguém, inevitavelmente recebo, em minhas mãos, a chave do coração de alguém. E, como o coração é a sede dos sentimentos, este laço vai se solidificando, na medida em que se percebe que alguns sentimentos não são tão passageiros como se apregoa, mas, sim, estáveis, como a caridade, como o amor.

Quem confia, entrega-se porque ama. E o amor é o mais belo dos sentimentos. Não este amor banal, frívolo, volúvel que vemos por aí nas esquinas e nas telenovelas, mas amor verdadeiro, que faz com que um amigo dê a sua vida pela vida do outro.

Exemplos deste tipo de amor? O de Jesus Cristo por nós, seus irmãos, o mais sublime de todos os exemplos; o amor dos esposos que se amam de verdade, até o fim de suas vidas; o amor de um pai ou mãe pelo seu filho; o amor de um amigo por outro a quem ama incondicionalmente.

Precisamos aprender a confiar, a entregar a chave do nosso coração. “Confiar” é como “esperar”; quem confia tem esperança, quem não confia é um “desesperado”.

Precisamos aprender a confiar em Cristo Jesus, para que Ele tenha livre acesso aos nossos corações (Ele confia em nós); precisamos confiar naqueles que verdadeiramente amamos, para que cresçamos juntos (deles também receberemos algumas chaves).

Confiemos. Amemos.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

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José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

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