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Cidade do Sertão é a que mais ‘exporta’ trabalhadores tidos com escravos, diz MPT

Desde 2003, 840 nascidos ou residentes no estado foram resgatados de condições semelhantes à escravidão.

Por Diário do Sertão

13/07/2017 às 14h49

Trabalhadores. Foto: Reprodução da internet

Desde 2003, pelo menos 840 pessoas que nasceram ou moravam na Paraíba foram encontradas em regime de trabalho semelhante à escravidão em outras regiões do país – em média, um paraibano resgatado a cada seis dias. No estado, a cidade de Patos, no Sertão, é a que mais ‘exporta’ trabalhadores explorados, com um registro de 131 cidadãos que saem de casa atraídos pela promessa de emprego digno, mas são enganados na hora de começar a trabalhar.

As informações são do Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil, mapeamento em banco de dados produzido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Organização Mundial do Trabalho no país.

Segundo a pesquisa, nos últimos 14 anos, das 840 pessoas resgatadas, 478 declararam ter nascido na Paraíba e 362 disseram morar no estado. Já em relação a Patos, 64 eram naturais da cidade e 67 tinham residência no município sertanejo, correspondendo a 13% do total de egressos nascidos na unidade federativa e a 18% do número de residentes.

O advogado trabalhista Taciano Fontes acredita que a quantidade de escravizados na Paraíba é ainda maior. “Com esse número de desempregados que o país tem hoje, 14 milhões, e as pessoas com menos estudo têm mais dificuldades de conseguir emprego, os agenciadores procuram essas pessoas, prometem bons empregos e levam para o Sul do país”, afirma.

Ainda de acordo com o advogado, a preferência é por homens de baixa escolaridade que vivem nas zonas rurais. Ao serem recrutados, eles são levados para trabalhar com mineração, agricultura e construção. “[É trabalho escravo] no momento em que começa a cobrar pela alimentação e pelo alojamento, de todas as formas, eles dão um jeito de deixar você com nada”, explica.
‘Lá, tudo é diferente’

Um dos paraibanos escravizados, que, por segurança, preferiu não se identificar, conta que, foi obrigado, com outras 17 pessoas, a trabalhar sem direito a nada depois que aceitou uma proposta de emprego em São Paulo. “Na hora de ir, disse que era tudo por conta deles. Mas na hora em que o cara está lá, tudo é diferente”, conta.

Ao chegar no novo local de trabalho, o grupo pagava pela comida e hospedagem e as carteiras de registro profissional ficaram retidas. Além disso, o alojamento onde ficava era sujo e não tinha cama. “O cara chega e vê aquele entulho, rato, barata. Você pensa que vai dormir num colchão. Tá certo, não é o mesmo conforto de casa, é longe, mas você dormir em cima de tábuas…”, recorda.

Após sete meses, na hora de sair, os empregadores exigiam que o trabalhador devolvesse o dinheiro da rescisão do contrato para poder ter os documentos pessoais de volta. Quem desobedecesse às determinações ainda podia ser agredido e recebia ameaças de morte “Eles falam: ‘Vocês vão pro banco pra olhar se está liberado o valor total [da rescisão]. Estando liberado, a gente saca aqui, vocês me entregam'”, diz. O trabalhador e outro colega denunciaram os patrões à polícia e foram resgatados.

G1

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