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Padre de Cajazeiras abandona a batina para viver relacionamento amoroso: “Não suportei”

"Saibam que não desisti da caminhada, apenas mudei a rota, na certeza de que todas tem o mesmo destino", falou o reverendo

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15/10/2014 às 10h17

A população do município de São João do Rio do Peixe, ficou surpresa na última terça-feira (14) com a informação que o Padre Francisco Batista de Sousa Neto, decidiu abandonar o ministério presbiteral e a administração da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em São João do Rio do Peixe-PB, para viver um relacionamento amoroso.

O anuncio foi feito através de uma carta aberta  que o próprio reverendo publicou. Na publicação, ele diz que tomou esta decisão para viver um grande amor. “Um amor criado por Deus vivenciado entre um homem e uma mulher”, declarou. 

Após sua formação, o padre Neto ficou na Paróquia São João Bosco em Cajazeiras, juntamente com o Padre Janilson Rolim.

Em um dos trechos do anúncio, o padre diz que foi um chamado do coração e que não suportava mais: “O amor é amor quando existe reciprocidade e isso eu senti. Nada pode contra e ninguém pode resistir ao amor. É o último grau de evolução”, afirmou ele.

Confira abaixo a carta na íntegra!

Venho, através desta carta, expressar os meus sentimentos diante da minha escolha. De início, oportuno anotar, que não interpretem estas palavras como justificativa, pois não preciso apresentá-la, até porque a escolha é individual, pessoal e assim como fiz livremente para ser padre posso também livremente deixar. Deve-se entender que cada um tem um limite de ação, que existe o livre arbítrio. Neste sentido, desarmem-se de suas concepções religiosas preconceituosas, pois a vida é feita de escolhas.

Após um longo processo solitário de discernimento, decidi abandonar o ministério presbiteral e a condição de administrador da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em São João do Rio do Peixe-PB. Decidi viver um grande amor. Um amor criado por Deus vivenciado entre um homem e uma mulher. Um amor divinamente humano. Espero que compreendam que não estou fazendo uma troca, pois o amor a Deus e ao seu Reino sempre estará em primeiro lugar na minha vida e até porque o amor é onde Deus está, é o que Deus é e não é possível ir contra isto. Apenas quero ser coerente e verdadeiro. Não vai de encontro aos meus princípios viver de forma forjada a disciplina do celibato a qual prometi no dia da minha ordenação viver. Não posso enganar a mim mesmo e ao Povo de Deus.

É inconteste que não foi fácil o caminho de discernimento e tenho consciência que nem será o de recomeçar, mas a vida é feita de escolhas e as escolhas fazem parte da vida daqueles que são livres, como Deus nos criou. Para ser fiel a Deus e a si mesmo é preciso mudar.

As decisões, são sempre difíceis de serem tomadas, corremos o risco de sermos crucificados, apedrejados, mas no fim, a misericórdia divina supera toda atitude de preconceito e de não amor. O certo é que não podemos viver sempre em indecisões atrasando o futuro que nos espera e, mais tarde, arrependidos de não termos feito o que deveríamos. Viver requer coragem. E tem coisas que pulsam no coração em que nem mesmo a razão é capaz de explicar.

O maior dom do ser humano é a liberdade para fazer escolhas. Viver é uma sequência de escolhas certas ou erradas com consequências positivas ou negativas para o envolvido e os demais. Não há dúvida de que as escolhas são o principal fator determinante da vida.

Confesso que não estava prevista no meu projeto de vida esta mudança. Desde da tenra idade cultivei o sonho de ser padre, em poder servir ao Povo de Deus, e assim me dediquei a este legado com um longo tempo de preparação. Não me arrependo se quer uma fração de segundo, porque vivi intensamente a minha escolha. Nos quase seis anos de ordenação presbiteral, sempre fui feliz, cada momento foi vivido com amor exerci a minha missão com muita verdade e comprometimento.

Porém, nos últimos anos despertou em meu ser a necessidade de concretizar algo de muito valor que já tinha admiração na fase infanto-juvenil: a vida conjugal. Isso foi despertado em mim e confesso que não foram as poucas vezes que tentei focar minha vida naquilo que eu havia escolhido primeiro, mas chegou um tempo em que a minha humanidade não suportava mais. Alguns podem até pensar que foi uma crise vocacional, sou sincero e convicto ao dizer que não, porque se fosse para continuar sendo padre e ao mesmo tempo constituir uma família pra mim nada mudaria. Compreendo que o celibato é uma disciplina da Igreja e que deve ser observado por aqueles que livremente escolhe esta vocação. No início do meu ministério até pensei que seria possível viver por toda a vida, mas chegou o momento em que a minha humanidade falou mais forte. Realmente o celibato é um dom e nem todos são capazes de viver e entender. Admiro muito aqueles que são capazes de viver. Acredito que a não vivência do celibato não impede de exercer e nem mácula este ministério. Contudo, é uma disciplina da Igreja e que deve ser cumprida por aqueles que escolhem livremente vivê-la. Não sou eu quem vai mudar a disciplina, eu quem devo mudar. Então, me debrucei nesta reflexão, concluindo que não poderia ser incoerente com a minha escolha. Decidi então recomeçar a minha vida, rompendo com meus sonhos e esperanças e de tantos outros que depositaram em mim.

Que fique claro, que em momento algum nesta nova escolha desejei ou articulei magoar alguém. Quantas vezes quis dominar o meu coração, mas isso é impossível quando sentimos um amor verdadeiro sem malícias e pretensões. Peço perdão se alguém sentiu ferido e atingido por mim. O amor é amor quando existe reciprocidade e isso eu senti. Nada pode contra e ninguém pode resistir ao amor. É o último grau de evolução, é onde Deus está, é o que Deus é e não é possível ir contra isto.

Com imensa satisfação, continuarei servindo a Igreja, assumindo o meu batismo como discípulo e missionário de Jesus Cristo, e, exercendo o meu sacerdócio batismal, celebrando, agora, uma liturgia doméstica, culto a Deus prestado ao Senhor em casa, oferenda religiosa da vida conjugal, pondo em prática o plano de amor que Deus confiou ao homem e mulher.

Peço oração e compreensão de todos que ao longo da caminhada cruzaram o meu caminho. Preservarei os mesmos sentimentos e carinho por todos. Agradeço àqueles e àquelas que foram ombro amigo aonde eu descansei, desabafei e por muitas vezes chorei neste meu itinerário de discernimento. Tomo esta decisão na firme esperança e na sinceridade de coração.

Saibam que não desisti da caminhada, apenas mudei a rota, na certeza de que todas tem o mesmo destino. Sejamos felizes e que Deus nos abençoe!

Cordialmente,
Francisco Batista de Sousa Neto

DIÁRIO DO SERTÃO

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