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Religião invade campanha dos presidenciáveis no Brasil; candidatos fazem profissão de fé e visitas a igrejas

Dilma e Serra convocaram pastores para anunciarem seus apoios, visitaram a basílica de Aparecida e anunciaram ter “a fé cristã”.

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26/10/2010 às 09h46

Discursos de palanque com conteúdo religioso, candidatos fazendo profissão de fé, visitas a igrejas, resposta na ponta da língua sobre assuntos morais e, acima de tudo, nenhum deslize pecaminoso em sua biografia. Assim são as campanhas norte-americanas nas últimas três décadas. E assim ficou a corrida presidencial brasileira em 2010. Se o brasileiro se espantava com esses ingredientes da democracia dos EUA, agora assiste em seu território ao mesmo fenômeno.

A petista Dilma Rousseff teve de se explicar várias vezes sobre sua opinião sobre o aborto, fez diversas reuniões com líderes religiosos e até uma carta de compromisso firmou para se livrar da suspeita que, se eleita, irá propor mudanças nas leis de direitos humanos. O tucano José Serra peregrinou por igrejas, leu a Bíblia no horário eleitoral e contou até com um santinho com citação bíblica: “Jesus é a verdade e a justiça.”

Ambos convocaram pastores para anunciarem seus apoios, visitaram a basílica de Aparecida e anunciaram ter “a fé cristã”.

O assunto tomou força uma semana antes do primeiro turno da eleição. Por um lado, o debate de presidenciáveis promovido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), ao qual Dilma não foi, foi pautado por esses temas – nele, Serra declarou que achavam bom o presidente brasileiro acreditar em Deus.

Pastores criticando o PT
Por outro, nos meios evangélicos começaram a circular vídeos com pastores criticando o PT e sua candidata, e apontando que eles eram a favor do casamento entre homossexuais e do aborto. Vídeos como os de Silas Malafaia e Paschoal Piragini Júnior foram acessados por milhões de internautas e ainda foram exibidos em igrejas.

Anteriormente, o tema tinha se limitado a uma carta intitulada “Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras”, divulgada em agosto pela Regional Sul da CNBB e que pedia para não se votar em candidatos do PT por ser a favor da “descriminalização do aborto”. Quando o tema ganhou as manchetes, os bispos católicos se negaram responder porque a discussão era “eleitoreira”.

Pesquisa Datafolha
Pesquisa do Datafolha apontou que 25% dos eleitores que desistiram de votar em Dilma no dia 3 de outubro apontaram razões religiosas – o restante justificou a mudança por denúncias e escândalos sobre o governo.

A queda entre os evangélicos perdurou no segundo turno: é o único seguimento religioso em que José Serra vence segundo o instituto de pesquisa (na linha evangélica não pentecostal, o tucano lidera por 50% sobre 40% de sua rival). A petista vence entre católicos, espíritas e os que não têm religião.

A mudança repentina é explicada em parte porque o público majoritário das igrejas evangélicas tem o mesmo perfil dos eleitorais que mais tardam a definir seu voto: as mulheres de baixa renda. Em geral, o único espaço público de debate frequentado por essa parte do eleitorado é o templo, por isso a palavra do pastor ganha mais força do que a dos padres e bispos entre os fiéis católicos.

Voto evangélico
Prova da força do voto evangélico foi o aumento de sua bancada: cresceu 47% em 2010, somando 63 deputados e três senadores – mesmo número de parlamentares que o PSDB conseguiu eleger. Os números mostraram que a bancada evangélica reverteu o desfalque sofrido nas eleições de quatro anos atrás por envolvimento de integrantes em escândalos como o mensalão, o que interrompeu um crescimento iniciado nos anos 80.

O Plano Nacional de Direitos Humanos, lançado pelo governo Lula no final do ano passado, é o principal alvo da bancada. Na "Carta de Brasília", divulgada pela bancada, os líderes evangélicos se insurgiram contra o apoio do plano, em sua versão original, à descriminalização do aborto e à união civil de pessoas do mesmo sexo.

Campanha em "tom moral"
Com essa guinada no final de setembro, um dos fatores que determinou a existência do segundo turno, fez a campanha recomeçar em tom moral. Em sua primeira frase, Dilma disse: “Quero começar este segundo turno agradecendo a Deus por me ter concedido uma dupla graça”. Serra, na imagem que abriu seu programa, apareceu discursando sobre a sua ida ao segundo turno e rogou: “Com Deus, vamos à vitória”.

Em entrevistas e discursos, ambos repetiam expressões-chaves como “a família brasileira” (em referência ao casamento gay), “respeito à vida” (leia-se “contra o aborto”) e liberdade de religião (“não criminalizar os religiosos contrários à homossexualidade”).

Os críticos logo acharam rótulos como “inquisição”, “Idade Média”, “puritanismo”, “guerra santa” e “cruzada eleitoral” para tentar explicar o clima em que a corrida presidencial entrou.

Do Uol Notícias

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