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1º da PB: Depois de quase 40 anos, atentado ao Bispo de Cajazeiras volta a ser investigado

A Comissão da Verdade do Estado da Paraíba foi instituída para esclarecer as circunstâncias dos crimes praticados no Estado durante o Regime Militar.

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21/03/2013 às 17h11

A Comissão da Verdade do Estado da Paraíba, instituída há duas semanas pelo governador Ricardo Coutinho (PSB) para esclarecer as circunstâncias dos crimes praticados no Estado durante o Regime Militar, (nas décadas de 60 e 70) decidiu, nessa quarta-feira (20), iniciar os trabalhos pela investigação do atentado ocorrido no Cine-Teatro Apolo 11, em 1975, na cidade de Cajazeiras, no Alto Sertão.

Segundo Valdir Porfírio, representante do Governo da Paraíba na Comissão da Verdade, as investigações vão começar pelo atentado do Cine-Teatro Apolo XI, que pertencia à Diocese de Cajazeiras, porque o fato nunca foi devidamente esclarecido pelas autoridades policiais.

Na época, o movimento de esquerda (principal alvo do regime militar) foi acusado de ter tentado matar o bispo de Cajazeiras, Dom Zacarias Rolim de Moura, que tinha posições políticas conservadoras e de direita, ao contrário das posições do arcebispo de João Pessoa, Dom José Maria Pires, que era assumidamente progressista.

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia militantes de esquerda e hoje é o PMDB- logo tratou de rebater as insinuações e acusou os próprios integrantes do regime militar de terem tramado o atentado contra o bispo para incriminar pessoas consideradas subversivas e minar o processo de abertura política que estava sendo iniciado lentamente no Brasil e que somente se concretizou anos mais tarde, devido às pressões da sociedade.

Bispo escapou porque tinha viajado a PE
O atentado aconteceu na noite de uma quarta-feira, 2 de julho de 1975, no auge do regime militar. O Cine-Teatro Apolo 11 exibia o filme “Sublime Renúncia”. O filme não teria agradado parte da plateia, que saiu antes do término. A má qualidade da cópia do filme teria encurtado a sessão em 15 minutos. O cinema estava quase vazio, quando a bomba explodiu.

A bomba estava em uma pasta 007 encontrada debaixo da cadeira onde o bispo, Dom Zacarias Rolim de Moura, costumava sentar. Ele era fanático por cinema e não perdia uma sessão. Mas, naquele dia, tinha viajado à tarde para Recife.  

A bomba que explodiu no cinema matou duas pessoas e deixou outras duas feridas. O bispo escapou porque naquela noite de 2 de julho de 75, ele não foi ao cinema, como de costume. Tinha viajado para a Capital pernambucana, onde faria aquisição de filmes que seriam exibidos no cinema que ele mesmo fundou na Diocese.

Quem colocou a bomba no cinema? Qual o intuito? Matar o bispo?  A quem interessaria a morte de Dom Zacarias, um sacerdote da linha conservadora da Igreja, que apoiou o golpe militar de 1964? Onde a bomba foi preparada? Quem tinha conhecimento suficiente naquela época, em Cajazeiras, para preparar e instalar uma bomba no cinema?  Onde estão os resultados das investigações? São destes e de outros questionamentos que os membros da Comissão da Verdade da Paraíba querem obter respostas convincentes. Respostas que estão ignoradas há 38 anos e que precisam ser levadas ao conhecimento da população.

Em consequência da explosão da bomba, morreram o soldado Altino Soares, conhecido como Didi, da Polícia Militar do Ceará, na época com 43 anos, e o ex-soldado do Tiro de Guerra de Cajazeiras, Manuel Conrado, conhecido como Manuelzinho, então com 19 anos. Ficaram gravemente feridos o operador do projetor do cinema, Geraldo Conrado, então com 31 anos, e o adolescente Geraldo Galvão, com 16 anos. (ABS)

Dez grupos de trabalho
A Comissão da Verdade se reuniu, ontem, pela primeira vez depois de instituída, para definir estratégias de atuação durante as investigações. A reunião aconteceu no Palácio da Redenção.

Segundo o presidente da Comissão, Paulo Giovani Antonino, a reunião de ontem decidiu pela formação de dez grupos de trabalho que terão por finalidade investigar as circunstâncias dos crimes de tortura, prisões ilegais, mortes e desaparecimentos de militantes políticos que se opunham ao regime militar.

Cada grupo de trabalho será coordenado por um integrante da Comissão da verdade. Os coordenadores dos grupos vão convidar outras pessoas para participarem das investigações. A próxima reunião da Comissão da Verdade foi marcada para o dia 2 de abril para a discussão e elaboração do regimento interno.

Entre outras questões, os grupos de trabalho vão investigar as demissões de servidores públicos, a estrutura dos órgãos de repressão, as cassações de deputados, rpefeitos e magistrados, a perseguição nas universidades, a repressão do Estado e das milicias privadas contra componeses e as mortes e desaparecimentos políticos. (ABS)

Entenda
O atentado terrorista que ocorreu há 35 anos na cidade de Cajazeiras foi destaque mais uma vez da edição desse domingo (24), do Jornal do Comércio de Recife.

Em sua série ‘Memória Política’ , a matéria comenta acerca de mistério que a cidade sertaneja viveu em 2 de julho de 1975: a bomba do Apolo 11, um atentado que vitimou dois, mutilou outros e destruiu o Cine Teatro Apolo XI. O alvo, dom Zacarias Rolim de Moura, bispo conservador da Diocese de Cajazeiras, escapou porque tinha viajado a Recife. Até hoje, porém, não foi descoberto o autor do atentado.

A reportagem aborda que, na pacata cidade do Sertão da Paraíba, a população foi sacudida por uma explosão sentida até fora da cidade. Às 21h, com as ruas desertas, a cidade havia começado a adormecer. Os moradores do centro correm para o local do impacto: o Cine-Teatro Apolo 11, fundado pelo bispo Dom Zacarias Rolim de Moura, à época com 60 anos, um fanático por cinema e frequentador assíduo das sessões.

De acordo com a publicação do Jornal do Comércio, o cenário era incomum e desolador para Cajazeiras: as poltronas destroçadas e quatro homens jogados ao chão. O soldado Altino Soares, o Didi, 43, com as pernas amputadas. O ex-recruta do Tiro de Guerra, Manuel Conrado (Manuelzinho), 19, com uma lasca de madeira na cabeça, o seu irmão e operador de projetor Geraldo Conrado, 31, com a perna direita partida e o corpo perfurados por fragmentos, e o adolescente Geraldo Galvão, 16, do abdômen para baixo perfurado e as pernas queimadas.

Levados para João Pessoa, Manuelzinho morreria dois dias depois e o soldado Didi, da PM-CE, nove dias depois. Dom Zacarias escapou. Naquela tarde, havia embarcado em um ônibus com destino ao Recife, onde – além das atividades pastorais – ia às distribuidoras alugar filmes para os cinemas da Diocese de Cajazeiras. O saldo do atentado não foi maior devido ao imponderável de uma fita de má qualidade, que partiu várias vezes, encurtando a sessão em 15 minutos, e ao enredo do filme, um drama que não agradou à platéia admiradora de faroestes e filmes de aventura.

Conforme a reportagem, a cadeira cativa de Dom Zacarias Rolim de Moura estava vazia, mas debaixo dela havia uma pasta modelo 007. Na varredura final do auditório, antes do fechamento do cinema, Geraldo Galvão encontra e entrega ao soldado Didi a pasta abandonada. Na curiosidade, ao abrir para saber de quem era, Didi puxa de dentro algo que imagina ser um gravador. A poucos metros, Manuelzinho grita: “não mexe, é uma bomba”. No susto, Didi soltou a bolsa no chão.

Na publicação trazida pelo Jornal do Comércio é enfatizado também que a bomba detonada em Cajazeiras, foi o primeiro de uma série de episódios ocorridos ao longo dos governos dos generais Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo. Ao assumir, em 15 de março de 1974, Geisel anuncia o processo de abertura política “lenta, gradual e segura”. Escolhido por Geisel, Figueiredo assume, em 1979, com a missão de dar continuidade à distensão e devolver o poder aos civis.

DIÁRIO DO SERTÃO com Jornal Correio da Paraíba

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