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Profissionais de saúde desafiam morte, estresse e jornada tripla

Médicos e enfermeiros encaram vida e morte em pronto-socorro, mesmo sob pressão e após longas jornadas

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27/06/2011 às 23h19

Na correria de um pronto-socorro, os médicos e enfermeiros de plantão precisam agir com rapidez e precisão, já que as vidas dos pacientes estão em suas mãos. Mas além do estresse e da pressão, esses profissionais também enfrentam suas precárias condições de trabalho: muitos deles fazem jornadas duplas e até triplas e encaram plantões de 24 horas, o que pode prejudicar o desempenho.

Na primeira reportagem da série Emergência Médica: Vidas em perigo, do Jornal da Record, a repórter Tatiana Chiari apresenta o centro nervoso e o coração da profissão de médico: o pronto-socorro.

Na rotina do plantão médico, reconhecer a gravidade do quadro clínico é parte fundamental do trabalho. Independente do resultado de cada caso, o tempo é curto para lamentações ou mesmo para alegrias, como conta Reginaldo Alcântara, gerente de pronto-socorro.

– A gente usa de tudo, faz de tudo, mas tem uma hora que não consegue, fica chateado, magoado. Mas daqui a pouco chega mais um e tem que enxugar as lágrimas e dar continuidade.

E além da pressão e das emoções, outro fator torna ainda mais difícil a tarefa dos médicos: a extensa jornada de trabalho.

É o caso do cirurgião geral Ricardo Monteiro, que trabalha cerca de 120 horas por semana. Ele diz que os protocolos e a experiência permitem ao médico manter o bom atendimento mesmo diante de jornadas tão extensas de trabalho.

– A gente já tem idéia se é mais grave ou tranquilo. E tem o feeling também. Vem com a experiência, cada um tem seu dom.

De acordo com o psiquiatra Mauro Aranha, vice-presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), a necessidade das longas jornadas é um dos grandes desafios para a boa prática médica.

– O médico é submetido a condições desfavoráveis para exercer o trabalho dele, [como] trabalhar em plantões excessivos, falta de repouso após plantões e várias condições de uma sociedade que não está bem organizada para a qualidade de vida.

Apesar de tantas responsabilidades, Monteiro se esforça para dar conta também de outras prioridades. Ele faz questão de buscar o filho na escola entre um compromisso e outro, frequenta a academia do prédio pelo menos três vezes por semana e dedica todo o pouco tempo livre à família.

Para conseguir suportar o ritmo frenético do pronto-atendimento, cada médico tenta criar sua própria rotina. Com mais de 20 anos de experiência, médico Miguel Moretti teve que aprender a cuidar do próprio coração.

– Você vai aprendendo a se controlar no plantão. É uma meditação, paradinha estratégica, vai para o quarto, toma um café, relaxa, respira, coloca a adrenalina no lugar e volta para o plantão. Não se recomenda 24 horas de plantão. Depois de um tempo seu rendimento não é o mesmo.

De acordo com o médico Jorge Carlos Cury, presidente da Associação Paulista de Medicina, a situação se repete tanto na rede pública como na privada.

– Os médicos não encontram as melhores condições de trabalho, recursos para atender os pacientes, dar prosseguimento, para a realização de cirurgia, execução de exames. Lamentavelmente [isso ocorre] no público e privado.

E é diante da falta de estrutura e de condições que os médicos acabam lidando com todos os tipos de emoções – boas e ruins – como explica Moretti.

– Nada supera a alegria de ver uma criança nascer, ou perder o paciente em uma operação. Emoção é muito forte, mas não pode misturar. Quando estou aqui, esqueço todo o resto.

Para Monteiro, a medicina é compensadora.

– Vale a pena porque é apaixonante. Me preparei para isso e não me arrependo.

  

R7

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