De olho na tecnologia, idosos fazem oficina para aprender a usar ‘o zap-zap’
Cerca de 25 idosos, alguns com mais de 80 anos, se reuniram para assistir à aula
Eles ainda não entendem muito bem a diferença entre Wi-Fi e 3G, demoram para encontrar fotos e contatos no celular e acham a tela touch complicada. Mas nada disso foi visto como impeditivo para um grupo de idosos que quer estar conectado. A vontade de se comunicar com parentes distantes, receber fotos e vídeos de amigos e ainda economizar créditos os motivou a participar da primeira oficina de WhatsApp – ou “zap-zap” – do Centro de Referência do Idoso (CRI) de São Paulo, unidade vinculada à Secretaria Estadual da Saúde.
Cerca de 25 idosos, alguns com mais de 80 anos, se reuniram para assistir à aula na unidade. O workshop buscou mesclar as partes teórica e prática. Enquanto o instrutor mostrava em uma projeção o passo a passo de como instalar o aplicativo, enviar mensagens, encaminhar fotos e mudar configurações, os alunos que levaram o celular treinavam as funções e tiravam dúvidas.
“Eu comecei a usar o WhatsApp faz uns dois ou três meses com a ajuda das minhas netas. E me adicionaram em um grupo da família, mas eram cem mensagens por dia, ficava apitando toda hora. Então eu pedi para a minha neta sumir com o grupo, só que aí minha prima veio perguntar se eles tinham feito alguma coisa errada para eu ter saído. Daí que descobri que dava só para silenciar o grupo e vim aqui aprender a fazer isso”, conta a aposentada Mathilde Pretel Bustos, de 78 anos.
Ela diz que “se obrigou” a aprender a mexer no aplicativo para estar mais próxima da família e também para economizar. “Antes eu mandava um torpedo ou ligava para alguém e meus créditos acabavam. Pelo Whats a gente gasta menos”, diz Mathilde, que agora quer aprender a usar o aplicativo Uber. “É mais barato do que táxi, mas ainda não aprendi a mexer.”
Sem celular
A pensionista Marina Isabel de Moraes Araújo, de 71 anos, procurou a oficina também pensando em economizar no futuro. Ela ainda não usa celular porque não se habitou com o formato do smartphone, mas quis participar do workshop porque ficou sabendo que, com o “zap-zap”, poderia falar de forma mais prática e barata com parentes que estão morando fora de São Paulo.
“Tenho um sobrinho que mora no Japão, uma sobrinha em Brasília e um irmão no Paraná e queria poder falar mais com eles. Vim aqui para ver mais ou menos como funciona a coisa. Agora vou pedir para o meu filho me ensinar com mais detalhes”, diz.
A aposentada Eunicia Josina Ferreira, de 79 anos, também não tem o costume de usar o celular, mas adotou como meta aprender a mexer no aplicativo quando viu a bisneta desenvolta com a tecnologia. “Minha bisneta de 3 anos pega o celular, tira foto e envia. Não é possível que eu não consiga”, afirma ela, aos risos. “E achei bom eles promoverem essa palestra só para os idosos porque os parentes não têm paciência para explicar para a gente.”
Líder do centro de convivência do CRI, Lissa Ferreira Lansky diz que as atividades tecnológicas promovidas pela unidade têm tido cada vez mais procura. “Nossas turmas de informática sempre lotam e já tínhamos promovido plantão de dúvidas de Facebook e de como mexer no celular, mas percebemos que era uma demanda dos idosos essa questão do WhatsApp”, conta ela. “Ajudá-los a se conectar deixa as relações familiares mais estreitas, aproxima o idoso da linguagem dos mais jovens e impede aquele sentimento de solidão ou exclusão que alguns sentem.”
Estadão Conteúdo
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