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A busca por uma vida mais simples: o movimento minimalista ganha força no Brasil

O confinamento forçou uma redescoberta do lar e do próprio tempo, o que fez muitos repensarem a forma como viviam.

Por Mel Souza

23/10/2025 às 14h17

A busca por uma vida mais simples: o movimento minimalista ganha força no Brasil

Em um mundo cada vez mais acelerado, em que as notificações nunca cessam e o consumo parece não ter fim, cresce um movimento que propõe justamente o oposto: desacelerar, simplificar e buscar propósito no essencial. O minimalismo, antes restrito a pequenos grupos e nichos de comportamento, vem ganhando força no Brasil e despertando o interesse de quem quer repensar sua relação com o tempo, o dinheiro e os objetos.

Mais do que uma tendência estética, associada a ambientes brancos, limpos e com poucos itens, o minimalismo se consolidou como uma filosofia de vida que prega o “menos é mais” em diversos aspectos. Da moda à alimentação, do consumo à mobilidade urbana, a ideia de viver com menos vem transformando hábitos e inspirando um número cada vez maior de brasileiros a reavaliar o que realmente é necessário.

Menos coisas, mais significado
O princípio básico do minimalismo é simples: eliminar o excesso para dar espaço ao que realmente importa. Essa busca por significado tem atraído pessoas cansadas da sobrecarga de informações, do acúmulo de bens e do ritmo frenético das cidades.

A pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas nesse sentido. O confinamento forçou uma redescoberta do lar e do próprio tempo, o que fez muitos repensarem a forma como viviam. “O isolamento fez as pessoas perceberem que não precisavam de tanto. Houve um despertar coletivo sobre o consumo consciente e o valor das pequenas coisas”, explica a psicóloga comportamental e pesquisadora de hábitos urbanos, Mariana Soares.

Essa virada de mentalidade se reflete em números. Pesquisas apontam que o interesse por temas como “vida simples”, “organização” e “consumo consciente” cresceu significativamente nas buscas online nos últimos três anos. O minimalismo, antes visto como uma prática alternativa, hoje se conecta a pautas mais amplas, como sustentabilidade, saúde mental e equilíbrio financeiro.

Mobilidade e liberdade: o essencial em movimento
Um dos pilares dessa transformação está na forma como as pessoas se deslocam. A mobilidade urbana também passou a ser um campo fértil para o minimalismo, com a ascensão de soluções mais leves, ecológicas e acessíveis.

A bicicleta, por exemplo, se tornou símbolo dessa mudança. Em muitas cidades brasileiras, pedalar não é mais apenas uma atividade esportiva, mas um estilo de vida. A ideia de usar uma bike gios nova, ou qualquer outro modelo que una praticidade e design, se encaixa perfeitamente nesse conceito: menos poluição, menos gasto, mais autonomia e mais contato com o ambiente.

A bicicleta minimalista, leve e funcional, representa um contraponto aos engarrafamentos e à dependência de combustíveis fósseis. Ela é a materialização do lema minimalista “menos é mais”: menos trânsito, menos estresse, mais tempo livre.

Segundo dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), o uso de bikes cresceu significativamente nos últimos anos, especialmente em grandes centros urbanos. Além de ajudar o meio ambiente, pedalar também está ligado a uma vida mais equilibrada e saudável, outro valor central do movimento minimalista.

Da casa ao guarda-roupa: a estética do essencial
O minimalismo também se tornou uma linguagem visual. Ambientes claros, poucos objetos e móveis funcionais são hoje sinônimos de conforto e elegância. Mas a estética minimalista vai além da decoração: ela reflete uma forma de pensar.

“Quando falamos de minimalismo, não se trata apenas de ter menos, mas de ter melhor”, explica o arquiteto e designer de interiores Pedro Aranha. Segundo ele, o brasileiro começou a perceber que um ambiente mais limpo e funcional melhora o bem-estar e até a produtividade.

Esse conceito se estendeu ao guarda-roupa. O consumo de roupas vem mudando, com a popularização do chamado armário cápsula: uma coleção reduzida de peças que se combinam entre si, priorizando qualidade e durabilidade em vez de quantidade. Essa tendência reflete uma mudança profunda na mentalidade do consumidor, que hoje busca mais propósito em suas escolhas.

Um movimento que conversa com o planeta
Além do impacto pessoal, o minimalismo também está profundamente ligado à sustentabilidade. Ao consumir menos, automaticamente reduzimos nossa pegada ecológica. Comprar produtos duráveis, reutilizar, consertar e repensar o descarte são atitudes que contribuem para o meio ambiente, e estão no cerne dessa filosofia.

O Brasil, um dos países que mais gera resíduos sólidos no mundo, tem visto crescer o interesse por alternativas sustentáveis. Pequenas atitudes, como evitar o desperdício de alimentos, preferir produtos locais ou adotar meios de transporte não poluentes, fazem parte do cotidiano de quem abraça o minimalismo.

“O movimento minimalista é, antes de tudo, um ato de consciência”, afirma a ambientalista e educadora social Camila Rios. “Quando você consome com propósito, passa a entender que cada escolha tem um impacto, seja ele ambiental, econômico ou social.”

O consumo repensado e o paradoxo das grandes promoções
Mas, em uma sociedade movida pelo consumo, viver de forma minimalista também significa enfrentar dilemas. Um deles é o apelo da Black Friday e outras grandes promoções, que se tornaram parte da cultura de compra global.

Para muitos, o evento é uma oportunidade de economizar em algo realmente necessário, desde eletrodomésticos até equipamentos esportivos. Para outros, é o símbolo máximo do consumo desenfreado que o minimalismo busca combater.

Nesse contexto, o movimento minimalista não defende o abandono completo das compras, mas sim a consciência no ato de consumir. Comprar algo de qualidade, durável e útil continua sendo coerente com os princípios minimalistas. O problema, segundo especialistas, está na aquisição impulsiva e sem propósito.

Essa reflexão sobre o consumo racional tem levado cada vez mais pessoas a adotar práticas como o planejamento financeiro, o desapego digital e o consumo colaborativo. Grupos de troca e brechós online, por exemplo, tornaram-se populares justamente por permitir a circulação de produtos sem necessidade de novos recursos naturais.

Minimalismo digital: o novo desafio
Outro campo em que o minimalismo vem ganhando terreno é o digital. A chamada “faxina virtual” se tornou comum entre quem busca mais foco e menos dispersão. Isso inclui reduzir o tempo de tela, organizar arquivos e e-mails, limitar o uso de redes sociais e adotar ferramentas que ajudem a otimizar o tempo.

O minimalismo digital é uma resposta à sobrecarga de informações e à ansiedade gerada pela hiperconectividade. Ele propõe uma relação mais saudável com a tecnologia: uma ferramenta a serviço do bem-estar, e não o contrário.

Empresas e profissionais também têm adotado essa filosofia. Reuniões mais objetivas, comunicação simplificada e ambientes de trabalho menos poluídos visualmente são exemplos de como o minimalismo pode se aplicar até mesmo ao mundo corporativo.

Um movimento com raízes profundas
Apesar de parecer algo novo, o minimalismo tem raízes antigas. Elementos dessa filosofia estão presentes em tradições orientais como o zen-budismo e o taoismo, que há séculos pregam a importância da simplicidade e da harmonia. No Ocidente, pensadores como Henry David Thoreau e artistas como o arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, autor da famosa frase “menos é mais”, ajudaram a moldar o pensamento minimalista moderno.

Hoje, essa filosofia se reinventa e se adapta aos tempos atuais, unindo estética, propósito e sustentabilidade. No Brasil, o movimento ainda está em crescimento, mas já é possível notar uma mudança significativa nos hábitos de consumo e no estilo de vida das pessoas.

Mais do que uma tendência passageira, o minimalismo representa uma busca coletiva por significado. Em meio à correria cotidiana, ele convida à reflexão sobre o que realmente importa; e mostra que, às vezes, a verdadeira abundância está em viver com menos.

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