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Impedido de receber título, Lula discursa em defesa da educação

Petista disse que governantes com diploma superior não souberam gerir o setor: "Quem sabe precise voltar um torneiro mecânico para cuidar da educação"

Por Priscila Belmont

19/08/2017 às 08h00 • atualizado em 18/08/2017 às 18h23

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Marlene Bergamo/Folhapress)

No segundo dia da caravana em que percorrerá 25 cidades do Nordeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou Salvador e foi a Cruz das Almas (BA), a 150 quilômetros da capital baiana.

Governada por um prefeito petista, Orlandinho, a cidade de 75.000 habitantes foi mantida no itinerário da peregrinação de Lula mesmo depois de a Justiça Federal cancelar a concessão do título de doutor honoris causa ao ex-presidente pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), criada em 2005, durante o primeiro mandato do petista.

Após uma ação civil movida pelo vereador soteropolitano Alexandre Aleluia (DEM), a honraria foi suspensa ontem pelo juiz federal Evandro Reimão dos Reis, da 10ª Vara Federal Cível de Salvador. Na ação, o vereador afirmava que que Lula não poderia receber o prêmio porque foi condenado a nove anos e meio de prisão na Lava Jato e faria de uma universidade pública “palanque eleitoral”.

Na decisão liminar, o juiz cancelou a cerimônia e determinou que a Polícia Federal fosse ao câmpus da UFRB para fiscalizar se a decisão seria cumprida.

Após chegar a Cruz das Almas, por volta do meio-dia, Lula foi à universidade e falou com o reitor, Silvio Soglia. Em virtude da decisão judicial, o ato com Lula aconteceu do lado de fora do câmpus, sobre um trio elétrico, e não na estrutura montada em frente à sede da instituição.

Lula chega ao carro da som na entrada Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Em seu discurso à militância, composta sobretudo de professores e alunos da UFRB, Lula criticou a decisão de Reis e disse ter “obsessão” com investimentos em educação. “Um título meu é cada diploma que vocês conseguem na universidade, e esse título nenhum juiz vai tirar, esse título é pra sempre”, declarou, antes de ressaltar que é o presidente com o maior número de títulos de doutor honoris causa da história do Brasil.

Ao criticar o teto de gastos públicos proposto pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB) e aprovado pelo Congresso no ano passado, o petista sinalizou mais uma vez que pretende disputar a eleição presidencial de 2018. “Se os governantes que tiveram diploma não sabem cuidar da educação, quem sabe precise voltar um torneiro mecânico para cuidar da educação desse país”, afirmou.

Depois do discurso de cerca de vinte minutos a bordo do trio elétrico Titanium, Lula seguiu de carro ao Festival da Juventude, também em Cruz das Almas. A agenda do ex-presidente nesta sexta-feira ainda tem uma viagem a São Francisco do Conde (BA), onde ele participará de uma cerimônia na Câmara local em homenagem à criação da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), assinada por Lula em 2010, último ano de seus dois mandatos.

Messi e Neymar

Antes de chegar a Cruz das Almas, Lula concedeu uma entrevista à rádio Metrópole, de Salvador, e fez críticas ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). O tucano tem atuado nos bastidores para ser indicado pelo seu partido como candidato à Presidência em 2018.

“[O Doria] faz um tipo, é como se fosse um cara de novela”, disse Lula. “O papel será atacar o Mascherano [zagueiro argentino] ou o Messi [eleito cinco vezes o melhor jogador do mundo] no Barcelona? Ele vai no Messi. Depois ele fala, vou atacar o Sergio Ramos [zagueiro espanhol] ou o melhor jogador do Real Madrid, que é o Cristiano Ronaldo? Ele pega as pesquisas. É isso que deixa as pessoas doentes.”

Lula afirmou que seus adversários estão “doentes” por causa de seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Ele ainda ironizou o rótulo de gestor que Doria usa para se diferenciar dos demais políticos. “Eu queria que ele governasse São Paulo e cumprisse tudo o que ele falou. Até porque ele terá que provar, primeiro, que tem competência para governar, porque é muito fácil falar que é gestor. Uma coisa é gerir uma quitanda, outra coisa é gerir uma cidade, um estado e um país.”

Questionado sobre quais alternativas o PT teria para as eleições de 2018 caso sua candidatura seja impugnada, Lula afirmou que volta “a ser técnico de futebol”. “Na hora que entrar em campo, eu falo”, disse. O ex-presidente poderá ser impedido de disputar o pleito se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmar em segunda instância a sentença de nove anos e meio de prisão que o juiz federal Sergio Moro expediu no caso do tríplex do Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato.

“Se for candidato, eu vou ser candidato para ganhar. Se não for, eu serei o cabo eleitoral mais valioso deste país. Serei como o Neymar está para o Paris Saint-Germain. Estarei da mesma forma em 2018”, declarou. Lula mencionou o ex-ministro Jaques Wagner e os governadores Rui Costa (Bahia), Fernando Pimentel (Minas Gerais), Camilo Santana (Ceará) e José Wellington (Piauí) como alternativas para as eleições presidenciais. Ele não citou o ex-prefeito Fernando Haddad, considerado o “plano B” do partido para o ano que vem.

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