Família de morto em canal pede interdição da obra de transposição
Jovem faleceu próximo à Estação de Bombeamento 3, a 500 metros da casa onde vivia com os pais e irmãos, na aldeia Caraíbas.
Uéslei Silva França tinha 16 anos e trabalhava como carvoeiro na zona rural de Floresta (PE). Em 8 de fevereiro, uma quarta-feira, foi com primos tomar banho no canal da transposição próximo à Estação de Bombeamento 3, a 500 metros da casa onde vivia com os pais e irmãos, na aldeia Caraíbas, habitada por índios da tribo pipipã. Morreu afogado. Seu corpo só apareceu três dias depois.
Não há proteção nas laterais dos canais ao longo dos 216 km do eixo leste, inaugurado pelo governo federal no último dia 10. Além de Uéslei, pelo menos mais outra pessoa, um homem em Custódia (PE), morreu nessas águas -além de animais.
Placas colocadas pelo governo às margens dos canais e barragens proibindo o banho e alertando para o risco de afogamento não têm impedido os mergulhos.
Segundo o relato do primo Manoel Hidelfonso, 16, que estava com ele no dia, Uéslei não sabia nadar. Pulou na água uma vez, quase se afogou. Os outros rapazes o resgataram com uma corda. “Fomos arrumar minha moto, que tinha quebrado, e ele ficou dormindo debaixo de uma algaroba. Quando voltamos, ele tinha sumido.”
Manoel conta que o grupo foi à estação e pediu que as bombas fossem desligadas, mas que o pedido só seria atendido três dias depois, quando o corpo enfim veio à tona.
Os pais de Uéslei, Valdomiro Alves de França, 50, e Marineide Maria da Silva, 43, são agricultores pobres, por ora sem plantar por causa da seca. Criam nove cabras, recebem R$ 100 do seguro safra e R$ 400 do Bolsa Família -mantêm os outros filhos na escola. Têm água quando um carro-pipa da prefeitura abastece sua cisterna. A da transposição, logo ali ao lado, não chegou à aldeia.
“Quando ouvi sobre essa obra, fiquei animado, porque aqui é um lugar seco e triste. Mas depois desse caso, acho que aquilo tudo tinha de ser fechado. Não existe segurança nenhuma nesses canais”, reclama Valdomiro. Segundo ele, ninguém de parte da obra procurou a família até agora, quase dois meses depois.
O Ministério da Integração Nacional dá outra versão: diz que “desde o incidente equipes de assistência social acompanham os familiares”.
O órgão diz ainda que intensificou campanhas para alertar a população sobre os riscos de nadar nos canais e reservatórios. Questionado se o governo indenizaria a família, a pasta disse que fará “tudo que a lei determina”.
Marineide, a mãe, anda mais calada que o marido. “Ninguém se conforma com a morte de um filho”, ela diz. Uéslei era o mais velho dos cinco filhos do casal. Faria 17 anos em 4 de junho. Com informações da Folhapress.
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