Valei-nos meu São José
A escritora Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, estreou na literatura com a publicação do livro O Quinze, que abordava a grande seca que ocorreu no Nordeste Brasileiro no ano de 1915. De forma critica e ao mesmo tempo emocionante ela descreve a triste realidade do povo nordestino que assolado pela seca e a miséria social, fugia em busca de sobreviver em outras regiões do Brasil.
Este livro foi escrito em 1930, ano de outra grande seca no Nordeste e seus primeiros parágrafos narram uma prece a São José e um diálogo entre dois personagens, da avó e uma neta:
“Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José, Dona Inácia concluiu:
”Dignai-vos ouvir nossas súplicas, ó castíssimo esposo da Virgem Maria,e alcançai o que rogamos. Amém.” Vendo a avó sair do quarto do santuário, Conceição, que fazia as tranças sentada numa rede ao canto da sala, interpelou-a:
– E isto chove, hein, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês…Nem por você fazer tanta novena…
Dona Inácia levantou para o telhado os olhos confiantes:
– Tenho fé em São José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril”.
Em 1915, Cajazeiras e seu povo viveram intensamente este drama e se não fora a ação forte e decisiva de Dom Moisés Coelho, que acabara de tomar posse como nosso primeiro bispo, muitos sertanejos teriam morrido de fome. Neste ano foi iniciada a construção do atual Açude Grande, pelas mãos calejadas de 300 “cassacos famintos e miseráveis”.
Passados mais de cem anos, o que mudou? Muito pouco. E hoje mais do que em 1915 e 1930, vivemos uma drama nunca imaginado pelo povo, não só de Cajazeiras, mas de todo o Alto Sertão, que é a de falta de água.
São cinco anos de seca, talvez, a história registre como maior e mais intenso período de estiagem. Em 1915 e 1930 o mais grave problema era a falta de alimentos, hoje é bem mais cruel porque falta água.
Imaginemos que São José não atenda as nossas preces e que as chuvas não venham com a intensidade que precisamos, então, o que fazer?
Os números indicam uma escassez enorme de água armazenada: a Paraíba é dos estados da federação que tem a menor capacidade de armazenagem de água, com apenas 3.783.918.864 m³ e o que resta hoje é muito pouco: 447.690.256 m³, enquanto no vizinho estado do Ceará somente o Açude Castanhão, com 6.700.000.000 é quase duas vezes do que todos os mananciais de nosso estado.
Dos 126 açudes monitorados pela AESA, 38% tem mais 20%, 31 menos de 20% e 58% tem menos de 5%. A situação dos açudes de nossas duas bacias hidrográficas é mais preocupante ainda: a do Peixe, que tem seis açudes: em Cachoeira dos Índios, Cajazeiras (Lagoa do Arroz),São Francisco, São João do Rio do Peixe, Triunfo e dois em Uiraúna (o do Arrojado tem 0,2%) juntos somam 143.282.963 m³, está apenas com 12,5% o que equivale a
17.912.110 m³.
A Bacia do Curso do Alto Piranhas, formada pelos açudes dos municípios de Bonito de Santa Fé, Cajazeiras (Piranhas), Carrapateira, Sousa (São Gonçalo), São José da Lagoa Tapada e São José de Piranhas somam 322.513.781 m³ e atualmente está apenas com 9,6% de sua capacidade o que equivale a 30.868.190 m³.
Diante da grandeza deste problema uma única voz clama por solução: a do deputado estadual Jeová Campos, que infelizmente, de tanto gritar perdeu a voz e o encanto por falar demais e não ser ouvido.
E o que nos resta? Apelar para São José e manter a esperança, igual a da personagem de Rachel de Queiroz, que diante da incredulidade da neta, disse: “tenho fé em São José e acredito que vai chover!”
José Antônio
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