Um violeiro na prefeitura
O poeta Sebastião Dias vai assumir em janeiro a prefeitura de Tabira, pequeno município do sertão pernambucano do Pajeú, na divisa com a Paraíba. A campanha política para conquistar os 16 mil eleitores de Tabira girou, além dos temas corriqueiros, em torno da viola e da condição de repentista exibida pelo candidato da oposição ao atual prefeito, José Edson Carvalho, popularmente conhecido como Dinca, que postulava a reeleição. Tendo como adversário o famoso violeiro, os situacionistas desdenharam de uma grande viola de dois metros colocada bem em frente da casa do candidato Sebastião Dias. E ainda por gaiatice, no maior deboche, anunciaram que iriam quebrá-la no dia da vitória… Tião nem ligou. Seguiu dedilhando a viola e versejando para deleite de seus conterrâneos.
Sebastião Dias, ao contrário do nosso poeta-candidato Gildemar Pontes, não é um neófito na arte de amealhar votos em tempo de eleição. Potiguar, nascido em Ouro Branco, fez-se tabirense há muitos anos, querido de seu povo, tanto que já ocupara a cadeira de vereador e exercera o cargo de secretário municipal de cultura em Tabira. Portanto, era um político com experiência, inclusive, na abordagem de denúncia social e política, que impregna seus versos, desde os tempos da ditadura, tanto quanto permitiam as brechas calçadas de metáforas, inerentes à fala poética. No passado, Tião denunciou o militarismo, o que lhe valeu agressão por policial militar em Belém do Pará, poetizou missas celebradas por Helder Câmara e fez o povo delirar em comícios no Recife, como ele mesmo recordou agora na euforia de ser eleito prefeito de Tabira.
Isso mesmo, proclamado o resultado, o poeta Sebastião Dias Filho (PTB) obteve 7.553 votos, exatos 487 sufrágios a mais do que José Edson (Dinca), aliás, candidato do partido do governador Eduardo Campos. De peito lavado, o grande poeta Tião deu o troco a quem fez troça de sua viola e desafogou a alma do povo nestes versos:
“Foram dias de muito sofrimento
afastado do som da minha lira.
Só porque defendi nossa Tabira
prometeram quebrar meu instrumento.
Mas viver sem cultura eu não aguento
poesia pra mim é coisa bela.
E até quando esta mão pega na vela
poesia será a minha escola.
Quem queria quebrar minha viola
foi dormir escutando o choro dela.”
E teve mais. Um blog local (www.tabirahoje.com.br) divulgou este mote:
“Foi assim que o império de Tabira/se rendeu à viola do Tião”.
Aí, choveu poeta a oferecer sua colaboração. Eis uma pequena amostra, da lavra de Diomenes Mariano, para gáudio dos leitores amantes da arte popular mais difundida no grande sertão brasileiro:
“Quando o sete de outubro amanheceu
as pessoas felizes foram às ruas
para usarem a maior das armas suas
contra quem explorou e ofendeu.
Foi aí que a viola apareceu
como arma apontando a solução
um poeta serviu de munição
a blasfêmia curvou-se a sua mira.
Foi assim que o império de Tabira
se rendeu à viola de Tião.”
Preciso dizer mais alguma coisa? Preciso. Ofereço esta crônica a todos os repentistas, emboladores, violeiros, cantadores, enfim, a todos os poetas que, no repente ou na demorada reflexão do recesso da alma, inundam os ares do Brasil pelas emissoras de rádio, pelos serviços de alto falantes, em feiras livres, nos terraços da casa grande ou no terreiro da mais modesta casa de taipa com sua arte imortal.
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