Um nome para OAB/Cajazeiras
Cajazeiras gostou da decisão da Ordem dos Advogados do Brasil/PB de construir nova sede para sua seção local. Sem dúvida, uma demonstração de prestígio para nossa cidade, onde existe núcleo de profissionais da advocacia cada vez mais numeroso e atuante na Paraíba e onde funcionam dois cursos de direito. Cajazeiras não aplaude, contudo, o nome de Ronaldo Cunha Lima, anunciado para a sede. Não que se faça restrição ao poeta, advogado e político. Afaste-se qualquer indisposição contra Ronaldo, porém, causa surpresa tal escolha, aliás, fora de propósito, enviesada, inconveniente. Por quê? Dá a entender que não temos no sertão nomes à altura de imortalizar-se na seção local da OAB. Temos. E muitos.
Por isso, a reação da sociedade cajazeirense, ao ponto de gerar um movimento com o intuito de evitar a confirmação desse possível deslize da direção estadual da OAB. Até já circula uma lista com sugestão de seis advogados conterrâneos. Poderia ser dez ou quinze ou vinte a merecerem a honraria, em especial por dois requisitos básicos: são cajazeirenses de nascimento e tiveram forte atuação no fórum local. Isso sem demérito para muitos outros que, vindos de outras plagas aqui se fixaram, prestando significativos serviços à sociedade sertaneja, como profissionais do direito. Não é este o caso de Ronaldo Cunha Lima, ressalvadas esporádicas atuações.
O aconselhável, data venia, é selecionar uma figura que expresse, senão a unanimidade, pelo menos a convergência da maioria, afastando-se qualquer conotação político-partidária. Figura simbólica para a profissão e a história de Cajazeiras. Então, seria de bom alvitre incluir o componente histórico entre os critérios para a escolha. Neste caso, surge como mais apropriado o nome de Manoel de Souza Rolim, o primeiro bacharel em direito nascido quando Cajazeiras era simples fazenda.
Manoel de Souza Rolim obteve o diploma no longínquo ano de 1839, na velha Faculdade de Direito de Olinda, ano em que Cajazeiras era simples povoado do município de Sousa. Irmão do padre Inácio de Souza Rolim, ao formar-se em direito, Manoel de Souza Rolim, regressou ao sertão, fixando-se no então lugarejo de São José da Lagoa Tapada, onde abriu uma escola a pedido do líder político sousense, Comandante José Gomes de Sá Júnior, que, com seu prestígio e influência, fez do jovem bacharel, deputado provincial na legislatura de 1844-45, como registra Deusdedit Leitão, no livro “Bacharéis Paraibanos pela Faculdade de Olinda”. Informa ainda nosso historiador maior que Manoel de Souza Rolim foi pioneiro do abolicionismo no sertão, como demonstram as ações práticas de preparar cartas de alforria, havendo registro histórico datado de 1851, portanto, 37 anos antes da abolição formal da escravidão no Brasil!
Após temporada no município de Sousa, Manoel de Souza Rolim veio para Cajazeiras quando foi criada a Comarca, tendo aqui atuação brilhante, destemida, às vezes, agressiva, sempre na defesa de seus constituintes. Além de exercer a advocacia, ele ensinou Latim no famoso colégio do irmão padre até que a grande seca de 1877/79 o obrigou a refugiar-se no Cariri cearense, onde continuou sua missão de professor e advogado.
Seu nome inscrito na nova sede local da OAB teria valor simbólico em vários sentidos: primeiro advogado nascido em Cajazeiras, professor de primeiras letras e de Latim, pioneiro na luta pela abolição dos escravos e irmão do padre mestre Inácio de Souza Rolim. Fica a sugestão.
(*) O autor é bacharel em direito e pós-graduado em desenvolvimento econômico.
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