Tributo à Regina
Segundo as palavras de Santo Agostinho: “o importante não é vencer todos os dias, mas lutar sempre”. Plagiando este pensamento retrata-se a batalha incansável de Regina Holanda.
A PROFESSORA – profissional incansável no exercício do magistério lecionou até quando sua estrutura física disse; “basta” foi no momento em que algo estranho acontecia na sua corrente sanguínea causando um acidente vascular cerebral. Mesmo assim, lutando contra a enfermidade a professora Regina era movida pela vontade de ensinar, expressava palavras demonstradoras de interesse a fim de visitar a escola João Milanês onde exerceu grande parte de sua atividade profissional.
Sentada na sua cadeira de rodas, Regina traçava abstratamente o projeto arquitetônico que possibilitaria a sua acessibilidade à escola João Milanês e assim dizia: ”será preciso fazer uma rampa bem grande, para eu ver meus alunos e alunas. Ela sabia que não podia mais ministrar aulas, mas sentia a necessidade de visitar a escola, os colegas e seus alunos. Como a professora Regina sempre traçava estratégias para as aulas, assim também novas metas estavam sendo preparadas por ela para continuar a vida de educadora de forma diferente. Pode se deduzir que os ideais de educar, o desejo de lecionar continuavam no seu intelecto fortalecendo-a e talvez, quem sabe, transformaram-se em chamas iluminadoras na sua eternidade. Era uma professora que entendia o ato de ensinar como preparação da cidadania e consequentemente a transformação da sociedade.
Todos nós ficamos aqui: familiares, amigos(as), colegas, alunos(as) e pais de alunos, sentimos a falta de sua presença, porém acreditamos que as luzes dos ensinamentos da professora Regina Holanda jamais irão se apagar, são legados que perpetuarão no terreno mental daqueles que estudaram com ela. Viveu a parábola do bom semeador, jogou a semente do saber através das orientações nas aulas e como boa lavradora adubou os campos do conhecimento de tantas mentes ajudando a construir futuros brilhantes.
A MILITANTE – Regina Holanda participou das lutas em defesa dos direitos da classe trabalhadora do magistério público estadual, em pleno período da ditadura militar. O grito de Regina ecoou nos movimentos grevistas de décadas passadas, demonstrando a sua revolta e inquietação diante das injustiças cometidas contra a categoria a qual pertencia.
Era inconformada com as práticas que mutilam e oprimem os direitos e a dignidade das pessoas, ás vezes mostrava-se radical expressando sua insatisfação aos males que a ganância e o poder constroem na sociedade.
A SURPREENDEDORA – Regina era interessante, de repente a fúria de uma mulher valente desmanchava-se em humildade “era hora” em que as lágrimas rolavam na face da guerreira. Era muito sábia para entender quando desagradava alguém, pedia desculpas com facilidade e buscava através de carinhosos gestos e palavras apagar as mágoas que por ventura tinha provocado a alguns ou sofridas de outros. Entre fortaleza e humildade encarou realidades rotuladas, enfrentou dificuldades e viveu conforme seus ideais.
Gostava muito de presentear as(os) colegas; uma bolsa, um anel, um batom e outras coisas e o mais interessante, era entregue ao presenteado sem nenhum alarde. Ela tirava humildemente da sua bolsa o presente ofertava-o e pronto!
A ARTESÃ – Regina tinha mãos de fada como diz o ditado popular, através dos nós do crochê, construía belos bordados em roupas de cama, mesa e vestimentas, verdadeiras obras de artes eram arquitetadas através de uma agulha manipulada pelos dedos de Regina. As brilhantes e coloridas pedras apoiadas em finos arames eram peças fundamentais na fabricação de pulseiras, anéis e colares conciliados à criatividade de Regina transformavam-se em finas jóias enfeitando mulheres e crianças.
A POETISA – Regina foi presenteada por Deus com o dom de compor poemas, é autora de muitas composições as quais se assemelham aos grandes escritores da literatura brasileira, tendo seu próprio estilo, seus poemas são permeados de características do Trovadorismo à literatura contemporânea. Os versos que saíram das entranhas do seu intelecto, hoje são como a as notas musicais dos instrumentos que embalavam as noitadas de festas e lazer que a poetiza vez por outra afeiçoava.
Regina era também “mestra” na declamação de poemas. Assistir Regina declamar era presenciar um espetáculo de extrema beleza. A poetisa enchia-se de emoção e enriquecia o texto poético de uma vivacidade singular. Através da criatividade coloria as palavras num tom profundo, a sonoridade e as expressões corporais eram bem trabalhadas, tudo isto formava um conjunto harmonioso no palco no qual os únicos protagonistas eram: Regina e a arte poética teatral.
Entendemos assim: Regina apenas mudou-se para a eternidade não se calou e agora ouviremos sua voz através do trecho de uma dos seus poemas. ”Sou uma mulher de sonhos e fantasia, que ama através do dom da vida, a plenitude do amor, o amor que nada pede nada exige e sim, sempre almeja, sempre deseja”. (ARAÚJO, Regina Maria Holanda. Cajazeiras, 1984).
Professora Maria do Carmo de Santana
Cajazeiras, 19 de abril de 2015
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