A “transposição” que vem dos céus
Os cristãos costumam dizer que o nosso tempo é um e o de Deus é outro. A promessa de trazer água do Rio São Francisco para os sertões nordestinos é do tempo do “ronca” e a sua construção, iniciada em 2007, já percorreu longos onze anos e não tem data prevista para o seu término.
Nós os “sobreviventes”, possivelmente, estamos saindo do sexto ano de uma longa estiagem. Durante este período de seca as reservas hídricas do Nordeste praticamente foram consumidas, incluindo aí o Castanhão com sua monumental capacidade de armazenar mais de 6 bilhões de metros cúbicos de água.
Vale lembrar que o Castanhão após a sua conclusão previa-se que seriam necessários cerca de dez anos para que ele atingisse sua cota máxima, mas o maior rio seco do Brasil, o velho Jaguaribe, o encheu em apenas três anos. Fica a pergunta: quantos anos serão necessários para que as águas da transposição o encha, se por acaso um dia ela chegue até lá?
As obras da Transposição do Rio São Francisco já tiveram o seu valor alterado inúmeras vezes e até a sua conclusão ainda vai consumir muitos outros milhões de reais. As secas nordestinas antes eram utilizadas para enriquecimento dos políticos que detinham o poder, através dos famosos empreiteiros e “tarefeiros”, responsáveis pelas construções de pequenos açudes e estradas de terra e nos dias de hoje, mudou-se apenas a forma e os agentes, e são as grandes corporações e megas construtoras que tomam de conta das obras de combate à seca, que por meios “ilícitos” distribuíam propinas para os agentes políticos. A Lava-Jato que o diga.
Ressalto, enquanto a transposição das águas do Rio São Francisco não aportam nos Açudes Engenheiro Avidos e Lagoa do Arroz, somos agraciados com a “transposição” que vem dos céus, porque nestes últimos sete dias (16 a 22), estes dois mananciais represaram de água nova 1.986.150 m³ e como o consumo mensal para atender Cajazeiras, São João do Rio do Peixe, Santa Helena e Bom Jesus é de 419.000 m³, isto representa uma tranqüilidade para nós de quase cinco meses.
O açude de Boqueirão de Piranhas estava no último dia 16 com 8.130.745 m³ e no dia 22 com 9.334.795 m³ o que representa 1.204.050m³ e no de Lagoa do Arroz, no mesmo período estava respectivamente com 4.813.340 m³ e 5.595.440m³ o que dá uma diferença pra mais de 782.100m³.
As previsões dos institutos mais credenciados do Brasil indicam que no mês de março os índices pluviométricos serão bem mais favoráveis e que coincidem com os estudos e observações realizadas pelos “profetas das chuvas”, que se reuniram este ano mais vez na cidade de Quixadá. Dentro desta perspectiva poderemos ter um volume de água nova bem diferente dos anos anteriores.
O açude de Boqueirão deveria está com um volume bem maior do que o atual, se não fora a construção da Barragem da Boa Vista, obra que faz parte da transposição, encravada no município de São José de Piranhas, que segundo informações não oficiais, já estaria com mais de 16 milhões de metros cúbicos de água armazenada e tem a capacidade de acumular 240 milhões m³, portanto vai ficar maior que a de Boqueirão de Piranhas, que teve o seu potencial diminuído de 255 milhões de m³ para 220 milhões de m³, fato que até hoje o DNOCS ainda não deu explicação que pudesse convencer a todos nós.
Quem está gostando muito deste armazenamento das águas na Barragem da Boa Vista são os pescadores, que estão diariamente retirando dezenas de quilos de peixes, principalmente tucunaré e traíras que estão sendo vendidos nas cidades de Cajazeiras e São José de Piranhas. Dos males, os menores.
Historicamente, o Açude de Engenheiro Avidos, o nosso Boqueirão de Piranhas, segundo estudos e dados existentes no DNOCS, teria tomado numa única noite 20 milhões de metros cúbicos de água. Um verdadeiro dilúvio. Quem sabe não seríamos agraciados com chuvas, este ano, que possam fazer de novo sangrar, este açude que teve como grande defensor o Ministro José Américo de Almeida e que está completando 82 anos de sua construção?
A verdadeira transposição, vem dos céus.
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