Tarifaços e déspotas

Por Mariana Moreira – Como explicar para uma pessoa comum o tarifaço que o presidente dos Estados Unidos adotou e vem sendo pauta permanente de noticiário em todo o mundo?
A questão me foi dirigida por um servidor terceirizado da universidade.
Não tenho formação em economia. Tão pouco, em relações internacionais. Portanto, também se situo no universo daqueles que alimentam dúvidas e questionamentos sobre o tarifaço e quais implicações políticas, econômicas, sociais, culturais essas medidas do governo norte-americano trarão para minha vida cotidiana.
Uma certeza, contudo, me move: a arrogância e a presunção do governante norte- americano têm raízes na história contemporânea, quando líderes de países, em vários continentes, alimentados por discurso de prepotência que, ressoados pelos meios de comunicação e por sutis mecanismos de persuasão, se arvoraram e se arvoram em senhores absolutos de vontades e desejos, propondo e executando medidas e projetos de governança transversalisados por vieses autoritários e fascistas.
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O tarifaço pode ser enquadrado na mesma medida da presunção de superioridade de uma “raça”. Ou seja, os produtos, mercadorias, serviços, conhecimentos produzidos pelos norte-americanos trazem, em sua genética, a marca do melhor, do mais eficiente, do único que pode e deve ser rotulado com o selo de qualidade e validade em todo o planeta. Os demais, de qualquer canto, trazem sempre a impressão de inferioridade material e intelectual. Assim, devem receber pesadas taxas para terem a permissão de circulação e venda nos Estados Unidos. Dessa forma, se garante a exclusividade e a supremacia de um país que, ancorado no pesado arsenal bélico, se arvora no direito de determinar ao mundo suas regras e modelos de conduta. Tudo, com o aval da “democracia” que, pelos ditames do liberalismo, se sustenta pela liberdade escolha de todos.
O Donald Trump é invenção e herdeiro da mesma parafernália política e conceitual que produziu e produz, ontem e hoje, os ditadores e déspotas legitimados pelo discurso de superioridade e supremacia de um povo, de um país, de uma ordem e mesmo de uma ideia. Um povo que, situado em uma instância homogênea, esconde os conflitos, contradições, dissonância e divergências que se alimentam e prosperam nas desigualdades sociais, econômicas, políticas, regionais.
E o mundo, assustado, alega que qualquer tentativa de resistência pode parecer desafio, ou mesmo, ação suicida ante o poder do agressor. E todos se curvam e ensaiam apenas leves mungangas.
E assim, sigamos, pois:
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais.
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