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Francisco Cartaxo

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Saudade de minha mãe

09/12/2022 às 18h47

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo

Por Francisco Frassales Cartaxo

A saudade se agarrou à alma com cola da infância. Melancolia sem fim. Impossível catar palavras, por mais que as procure, para desaferrar do peito essa difusa sombra. Como nuvens, cenas embaçadas do passado embolam-se cá dentro, sem me permitir selecionar uma sequer para desaninhar a dor da alma. Aos poucos, no entanto, começam a esvoaçar palavras soltas e emergir a imagem de um vulto e uma voz. Um velho em passos miúdos, num terraço, para lá e para cá. Indo e voltando, a lembrança aclara na cena fugidia o andar cadenciado, a voz. A voz recitativa do velho: Como a ave que volta ao ninho antigo,/Depois de longo e tenebrosos inverno…

Meu pai!

Agora é tudo luz. Corro a pesquisar e logo encontro o poema completo, Visita à casa paterna, de Guimarães Júnior. Meu Deus! O banzo busca saída. Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior (Rio, 1845-1898, Lisboa) foi homem de letras com inteligência fincada nas ciências jurídicas e sociais, andante na diplomacia brasileira mundo afora. Navegou no romance, em peças teatrais e crônicas. Na poesia foi precursor de famosos como Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia. Fundador da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono da cadeira 31 é o poeta, jornalista, político, Pedro Luiz Pereira de Sousa. Hoje, Merval Pereira a ocupa…

E mais foi revelado.

Clóvis Beviláqua, na sempre consultada História da Faculdade de Direito do Recife, informa que Guimarães Júnior, vindo da Faculdade de São Paulo, chegou ao Recife, onde se formou (1869), pelo tempo da grande efervescência literária desse período. E o coloca entre os entusiastas do Recife, Tobias, Castro Alves, Palhares, Carvalhal, Plínio de Lima, que criaram a Escola Condoreira, segundo a qualificou Capistrano de Abreu, com o consenso de todos. Era a primeira fase da Escola do Recife.

E o soneto?

Visita à casa paterna

Como a ave que volta ao ninho antigo,/Depois de longo e tenebroso inverno,/Eu quis também rever o lar paterno,/Meu primeiro e virginal abrigo:

Entrei. Um gênio carinhos e amigo,/O fantasma talvez do amor materno,/Tomou-me as mãos, – olhou-me, – grave e terno,/E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala… (Oh! Se me lembro! E quanto!)/Em que da luz noturna à claridade,/Minhas irmãs e minha mãe… o pranto

Jorrou-me em ondas… Resistir quem há-de?/Uma ilusão gemia em cada canto,/Chorava em cada canto um saudade.

P S – O soneto é oferecido A minha irmã Isabel. Que coincidência, o nome de minha mãe!

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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