Poesia cristalina
Por Cristina Moura
Há quem diga que poesia é um conjunto de palavras que se estendem em versos. Frases que não são propriamente frases, mas se comportam em linhas separadas. Há quem diga que todas as linhas juntas, em pequenos pedaços, formam estrofes. Tudo bem. Há espaço para pensar, discutir, ponderar, refletir. Há tempo para desfiar metodologias e autores. Espaço e tempo.
Mas o valor da poesia é o que está embutido, intrínseco, sugerido. Podemos pensar em versos e estrofes, autores e dedicatórias, obras completas, mortais e imortais. Há espaço e tempo para tudo nesta terra e nas outras. O teor poético é o que a palavra diz em sua mais profunda expressão. É o que o verso atinge no seu mais rico sentido. É a multiplicação de significados nos olhares diversos que se enchem de pensamentos.
Do anoitecer ao pássaro que voa; da despedida sorridente à lágrima sofrida; do fruto que aparece na planta ao fogo que transforma o alimento; da amizade que nasce ao abraço que se renova: poesia cristalina. Poema é o objeto, o produto final ou semiacabado; poesia é o que há de mais subjetivo possível ou a teoria em seu estado mais fino.
Os cenários são quase um personagem à parte na narrativa. Desenvolvem-se, muitas vezes, e a depender da genialidade do autor, em porções e porções de poesia. Da montanha altiva a ser escalada naquela temporada ao terreiro da fazenda com suas galinhas e sapos; do amanhecer em dias úmidos naquele jardim à revoada de andorinhas num céu misterioso daquele bairro; da fumaça que esconde o que guardava aquela mansão à tapera que registrava no seu chão as agruras de um povo.
O narrador, se quiser, vai poetizando à vontade. Se quiser, vai descrevendo os detalhes do cenário, para a chama ficar mais entranhada na memória. Se quiser, vai fazendo de cada habitante das páginas um habitante eternizado no mundo do leitor. Assim é aquela escrava branca chamada Isaura; aquele índio robusto chamado Peri; aquele cavaleiro sonhador chamado Dom Quixote; aquela moça romântica chamada Catherine; aquele coronel recluso chamado Aureliano Buendía; aquele garoto aventureiro chamado Pedrinho.
Não precisamos nos deter ao ser humano, em carne e osso. Há criaturas surpreendentes e lugares sobrenaturais que também habitam os livros, que também habitam em nós. Assim é o Lobo, com sua boca tão grande; assim é o Coelho sempre simpático, mas atrasado; assim é a cachorra Baleia, tão magra e doente; assim é a bela Rosa, que mora num planeta distante; assim é o Conde Drácula, vampiro e solitário; assim são tantos fantasmas importantes nos enredos de tantos universos escritos. Assim é a vida. Assim é a leitura: desvenda poesia em todo canto.
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