Pessoas não são Coisas
Por Padre Renato
Acompanho de perto o cotidiano de minha região, o sertão da Paraíba.
Fiquei absorto com notícia veiculada nos meios de comunicação na última terça-feira, 25, a respeito do acontecido na cidade de São João do Rio do Peixe, a saber, um ato infracional cometido por um menor de 17 anos contra uma jovem de 19, sua ex-namorada. Munido de um revólver, durante seis horas, o adolescente ameaçou matar a moça e depois suicidar. O motivo era passional, tendo em vista que o conturbado relacionamento com o adolescente fora encerrado dias antes pela vítima. O desfecho felizmente foi positivo, com a libertação da jovem e a rendição do adolescente, com as devidas providências tomadas imediatamente para cada um dos casos.
Papel importantíssimo teve a Polícia Militar. A ela, nos homens envolvidos na operação, particularmente o Major Ronildo, meu amigo, os parabéns pelo brilhante trabalho. Quem quiser ler sobre o assunto, acesse https://www.diariodosertao.com.br/artigo.php?id=20090825072425.
Contudo, não estou aqui para narrar um fato de cunho policial. Isso já foi feito abundantemente pelos meus colegas de imprensa, os repórteres policiais. Como disse acima, o fato provocou em mim sentimentos de paralisia, num primeiro momento, mas de reflexão, num segundo. A primeira reação se deveu ao fato de que sou humano, a segunda também!
Creio que ninguém espera que uma situação destas atinja a sua casa, a sua família, a sua cidade, a sua região e, quando acontece, a sensação de impotência se instala. A reflexão vem a seguir, e se dá como fruto de muitas e muitas constatações que, aqui, gostaria de partilhar com os caríssimos leitores.
Nossa sociedade está passando por uma grave crise. E creio que a principal delas é o fato de que não estamos conseguindo mais formar homens, no sentido pleno da palavra. Não me refiro a “machos”, pois, neste quesito, os quadrúpedes são bem mais que os bípedes racionais. Refiro-me, sim, a “HOMENS e MULHERES”, portadores de uma personalidade firme e caráter forte, prontos para enfrentar os desafios que a vida cotidianamente oferece. Homens que saibam, por exemplo, lidar com as perdas, com a “política da existência” com um mínimo de elegância. Homens que se portem à altura de sua dignidade, não como altos eucaliptos que se deixam balançar pra lá e pra cá ao sabor dos ventos das emoções, mas que sejam capazes de filtrar as paixões, por mais avassaladoras que sejam no depurador da razão.
Assim, por exemplo, imagina-se que a mulher é “propriedade” do marido, e vice-e-versa, e que, “se não for minha”, não será de ninguém, como se ela fosse uma coisa, um objeto. Vide o caso em tela em que, por motivos que desconheço, um adolescente resolve tirar a vida de sua namorada porque esta decidiu encerrar o namoro, como se houvesse apenas “uma Maria no mundo”. Teria este rapaz feito isto por amor? Claro que não! Por paixão? Creio que sim. Mas, com certeza, por uma paixão bem doentia, patológica. Tem este rapaz culpa do que fez? Não! A culpa é nossa! Da sociedade, que não o preparou para ouvir o “não” da sua namorada. Verdade que ele é bem jovem, mas já tem idade para compreender que a vida também é feita de “nãos”.
Das escolas não estão saindo mais homens, assim como dos seminários também não; o mesmo se pode dizer dos quartéis e de todas as instituições formativas. É uma lástima, mas é assim. A escola, por exemplo, seja ela pública ou privada, com a engessada grade curricular exigida pelo MEC, não tem mais aulas de “civilidade” (nem se sabe mais o que é isso!); a palavra “Pátria” não é mais usada; não se sabe mais o que se comemora no dia 25 de agosto fora dos muros dos Tiros-de-Guerra. Desde 2008, filosofia passou a integrar o currículo no Ensino Médio. Mas, preocupo-me, e partilhava isso “in nillo tempore” com a Professora Carminha, então Superintendente da 9ª Região de Ensino: que tipo de filosofia seria dada, pois há filosofias e filosofias; filosofias que constroem homens e filosofias que destroem homens, construindo verdadeiros desesperados, sem nenhum princípio, sem nenhum norte, sem nenhuma base humana, moral, espiritual, emocional, psicológica e religiosa. Parece até que alguém descobriu que com uma educação desvirtuada (não humanista) é possível transformar pessoas em robôs, meros técnicos, pouco humanos.
Um movimento de reação a este modelo formativo que aí está se faz urgente. Que entrem em ação os responsáveis diretos por isto: os educadores, os formadores de opinião e os que querem viver num mundo possível. Caso contrário, marchamos para o caos anunciado.
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