Padre Inácio: o mestre sertanejo cajazeirense
Entre a história e conotações, nada mais é gratificante relembrar o passado de um astro iluminado do sertão que através de uma escola “berço da cultura” edificou o início de um povoado vindo a ser mais tarde a fundação de Cajazeiras. Em 22 de Agosto de 1800, nasceu um menino no Sítio Serrote, extremo oeste da capitania paraibana foi batizado por Inácio de Sousa Rolim, assim como qualquer outra criança, nem se imaginava que a mente de Inácio seria futuramente o celeiro de educação da região.
Com poucos dias de vida, o menino Inácio na companhia dos seus pais: Vital de Sousa Rolim e sua mãe Ana Francisca de Albuquerque e seus irmãos passaram a residir numa gleba de terra na qual existiam muitos pés de cajá e um rio banhando esta localidade. A Fazenda Cajazeiras era erguida com uma casa grande, um açude, mais tarde uma capela e o menino Inácio crescia, suas instâncias cerebrais se desenvolviam e a capacidade cognitiva amadurecia para o mesmo ser um grande intelectual do século num pedacinho do Nordeste.
Segundo a História, Inácio era um grande estudioso, muito interessado pelo mundo das letras e aos 16 anos já falava o Francês, o Grego e o Latim. Tamanha sabedoria, para a Psicologia no momento atual, Inácio teria um (QI) Quociente Intelectual com um nível bastante elevado, foi este terreno mental fertilizado que motivou a sua mãe Ana e talvez influenciada pela religião católica encaminhá-lo à cidade do Crato a fim do adolescente Inácio se preparar para ingressar nos Seminário de Olinda em Pernambuco.
Tudo estava sendo preparado para o surgimento de uma joia rara, o gosto do menino pelo Latim despertava nos familiares o interesse de vê-lo padre, seria motivo de orgulho para a família. Não tardou muito, no dia 03 de setembro de 1822 Inácio ingressou no Seminário, no decorrer do curso exerceu as atividades de Censor e Bedel, depois se integrou ao corpo docente do Seminário como professor de Grego. A preparação religiosa acontecia concomitantemente com o exercício do magistério e Inácio era uma espécie de farol iluminador de tantas mentes que se preparavam naquele educandário.
Em 02 de Outubro de 1825, Padre Inácio de Sousa Rolim foi ordenado sacerdote e como professor exerceu o cargo de reitor do Seminário. A missão de educar não seria somente no seminário, no ano de 1829 o bom sacerdote voltava a sua terra natal e começava a semear as sementes do saber na Escolinha da Serraria, assim chamada porque neste local as madeiras eram serradas para a construção das casas. A outra edificação de grande valor: “a educação” estava sendo erguida através do trabalho do padre Rolim na preparação de jovens para o conhecimento e liberdade pelo esclarecimento da consciência.
Como um bom semeador perseverante na sua ação, em um espaço bastante reduzido o Padre Inácio espalhava as sementes do conhecimento a meia dúzia de alunos interessados na aprendizagem, que mais tarde seriam o despertar de novas mentalidades. As matrículas na escola de Serraria aumentavam sendo necessário a ampliação da escola, sinal de que muitas sementes do saber plantadas pelo padre estavam sendo irrigadas. Como diz o historiador Celso Mariz: ”A casa de ensino se fazia à proporção que chegavam os novos discípulos, cada aluno esperava por um teto embora já encontrasse o seu livro”.
Alunos oriundos do Piauí, Rio grande do Norte e Pernambuco vieram estudar na escola de Padre Inácio e em 1843 a escola passa a ter o ensino secundário sendo considerado o “Primeiro Colégio da Paraíba” e Cajazeiras sendo batizada por Alcides Carneiro como “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”. E assim a expansão da cultura acontecia através das aulas de Padre Inácio, paralelamente também um aglomerado de casas crescia em torno do colégio “célula-mãe” visto que muitos jovens vinham residir na respectiva localidade atraídos pelo ensinamento do padre; conforme a História, em menos de 50 anos de um simples povoado passou à condição de vila, sede de comarca e depois cidade.
Quantos ilustres do cenário religioso, político, cultural e social beberam na fonte de sabedoria do Padre Inácio: Padre Cícero Romão Batista, Joaquim Arcoverde (Cardeal Arcoverde), Joaquim Bilhar magistrado e professor da Faculdade de Direito do Ceará e outros. Além de ser um bom mestre era um excelente poliglota, falava os idiomas: Francês, Inglês, Alemão, Italiano, Espanhol, Latim e Sânscrito (uma das mais antigas línguas clássicas da Índia), Hebraico, Tupi-guarani e Grego. No exercício do magistério, simbolizava a verdadeira árvore da sabedoria cujos galhos multiplicavam-se no conhecimento dos seus discípulos; era um sacerdote e educador por excelência, considerado pelo Imperador Dom Pedro II como o “Anchieta do Norte”.
Padre Inácio de Sousa Rolim é autor: da Gramática Grega obra impressa em 1856 na cidade de Paris; O Tratado de História Natural; Gramática de Língua Portuguesa; Um Tratado de Filosofia e outro Tratado de Retórica. Foi patrono da cadeira número 26 da Academia Paraibana de Letras. Recebeu honrarias e condecorações brilhantes através do Decreto Imperial no dia 14 de março de 1860 com as insígnias da Ordem de Cristo e da Ordem da Rosa pelos serviços prestados à causa da educação. Era um homem intelectual muito simples, segundo a história, utilizava-se de duas caixas de madeira para dormir o sono de um anjo puro, tinha um quê de naturalista, do reino animal preferia apenas o leite; as frutas e contidas massas para alimentação, à sua forma humilde de vida muitos lhe atribuíam virtude de santidade.
Em 1877 o fechamento do Colégio contribuiu muito para o declínio do estado emocional e físico do Padre Inácio, acometido de uma astenia cardíaca senil a qual vitimou o Padre no dia 16 de setembro de 1899, foi sepultado no interior da matriz Nossa Senhora da Piedade (atual Nossa Senhora de Fátima) em lugar desconhecido. Com a expansão da criação de escolas Normais no sertão, em 1917 foi construído o colégio Padre Rolim em homenagem a memória imortal de um sábio e de santo, o mestre entre os mestres, propulsor da educação no sertão paraibano.
O destino preparou a trilha na qual Padre Rolim percorreu nos caminhos da educação para através da mesma estabelecer as raízes que deram origem a cidade de Cajazeiras. O dia 22 de agosto é uma data simbólica, faz os cajazeirenses relembrarem o grande mentor do precioso legado construído pelo “mestre na arte de educar”.
Professora Maria do Carmo de Santana
Cajazeiras – Agosto de 2016
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