O vaqueiro Corcel: à memória de meu pai
Por José Antonio
Faleceu no último dia 15 de dezembro, Francisco Marcelino Alexandre, conhecido por Corcel. Foi casado durante 60 anos com Francisca Alexandre Saraiva e durante 26 anos trabalhou como “tirador de leite”, de um belo plantel de vacas holandesas, que meu pai, Francisco Arcanjo de Albuquerque, possuía, inicialmente aonde é hoje o abrigo dos Velhos Joca Claudino, onde funcionou durante décadas uma lavandeira pública, em terreno doado por meu pai, quando era prefeito Francisco Matias Rolim.
No entorno da lavanderia meu pai construiu mais de três dezenas de casas para alugar, então com o avanço de novas construções, o curral foi transferido para próximo às margens da BR 230, que cortou ao meio sua propriedade, e até os atuais dias nunca foi indenizado. Vivíamos o período da Revolução.
Foi neste novo curral que Corcel começou a trabalhar com meu pai. Esta semana fui olhar a casa onde Corcel morava com a família e o velho curral, construído de alvenaria e travejado com madeira e todo coberto de telhas que resiste ao tempo, desde os idos de 1969.
O gado pastava aonde são hoje a Escola Técnica Estadual, as casas para a terceira idade e a Escola do SEST/SENAI. Este terreno, o equivalente a quase 60 mil metros quadrados, foi desapropriado por um valor simbólico, no governo de Cássio da Cunha/Carlos Antonio com o objetivo de construir 600 apartamentos, mas nada deu certo, em seguida foi doado ao município e no governo de Ricardo Coutinho foi construída a Escola, bem como as casas dos idosos. Neste período meu pai já havia falecido (2002) e as negociações foram de pleno acordo com minha mãe Leopoldina de Brito Albuquerque, já falecida (2015).
Corcel era querido e amado por todos da família e seus filhos eram amigos de todos nós. Corcel era também o responsável pela alimentação suplementar do rebanho, que era de capim passado na forrageira, farelo de trigo e raspa de mandioca (meu pai comprava de carrada ao seu compadre Chico das Batatas, que trazia do Crato onde morava, a cada 20/30 dias).
Meu pai dedicava todos os domingos, para olhar suas “garras de terra”: no período da tarde, para ver sua vacaria e eu via o quanto ficava feliz, de alisar sua enorme vaca que atendia pelo nome de “Marinheira” e que era a campeã na quantidade de litros de leite. No turno da manhã ia para os “Coxos”, onde produzia algodão, milho, feijão e tinha um belo sítio com fruteiras – que ele até poucos dias antes de falecer, ainda plantou muitas laranjeiras, mangueiras, limoeiros e tangerineiras e que ainda existem. Era um dia de muitas alegrias. Consigo levava todos os filhos, genros, noras e minha mãe e preferíamos ficar sobre a sombra de uma enorme mangueira, usufruindo as delicias ali produzidas e tomando banho de riacho ou num enorme tanque cheinho de água. Este sítio foi palco de célebres festas políticas.
Meu pai era um empreendedor, foi no Sítio Coxos que foi instalado uma das primeiras linhas elétricas, através da cooperativa rural, bem como um telefone de veio, que servia muito para casos de urgência de seus vizinhos e dos seus negócios. Existem belos registros de sua vida como um homem do campo, que até os 25 anos de idade trabalhava alugado para manter sua mãe, que ficou viúva e com dois filhos para criar.
Corcel era muito amigo de meu pai e a casa em que morou até o último 15 de dezembro, foi construída e dada de presente ao mesmo, na Rua Duque de Caxias. Meu pai deve ter tido uma grande alegria ao se reencontrar com Corcel nas alamedas da eternidade.
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