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Renato Abrantes

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O trigo e o joio

01/03/2011 às 00h00

Corremos o risco de desanimar, quando constatamos a existência, aparentemente pacífica, entre o bem e o mal. E, mais ainda, quando percebemos que o mal se sobressai ao bem. Chegamos à absurda e equivocada conclusão que não compensa ser honesto, verdadeiro, transparente, fiel, coerente. Quem não é nada disso, “passa” melhor. Somos tentados a debandar para o caminho mais fácil, mais bonito, em detrimento do caminho pedregoso e íngreme.

Não vemos muitas pessoas “limpas” alcançarem um sucesso imediato, diferentemente de quem não se preocupa muito com sua “sujeira”. Estes, como foguetes, alcançam os topos numa velocidade que suscita mais desconfiança que admiração. Assim são, entre tantos, os corruptos, os que enricam às custas do suor alheio, os que não pagam impostos, os que sempre têm um jeitinho para tudo.

Diante deste quadro, esquecemos as palavras de Jesus. Numa de suas parábolas, a do joio e do trigo, encontrada no Evangelho de Mateus, capítulo 13, versículos que vão do 24 até o 30 (Mt 13, 24-30), o Mestre utiliza uma imagem bem conhecida: a roça.

Um homem plantou trigo de boa qualidade em seu terreno. À noite, veio o seu inimigo e espalhou joio, uma planta idêntica à primeira. Somente se distingue um do outro durante a colheita, pois os cachos são diferentes. A primeira intenção dos empregados foi de arrancar o joio; mas, foram prontamente advertidos pelo homem a não fazer aquilo, pois, assim sendo, poderiam arrancar também as plantas boas. Trigo e joio deveriam conviver até a colheita quando, aí sim, haveria não só a separação definitiva, mas, o joio seria queimado. Já o trigo, seria recolhido no celeiro.

A imagem é perfeita e responde a muitos de nossos questionamentos. Para o nosso próprio bem, devemos conviver com o mal, que não vem de Deus. A separação e a para dos maus poderia ser agora, mas, para evitar qualquer dano aos bons, Deus deixará tudo para o fim. De um Deus bom, não pode vir o mal. Ele não semeou o joio. O que vem de Deus é o bem, o trigo. O mal é resultado de nossas decisões, de nossa liberdade nem sempre bem orientada (a inveja do inimigo). Mas, a liberdade, mesmo quando conduz o homem por caminhos maus, não pode ser considerada um mal em si. A liberdade é um bem. Por ela, também chegamos a Deus.

Conviver com o mal não significa compactuar com ele. O trigo, mesmo que queira, nunca será joio. Aquele que é bom e que é convicto do bem que deve fazer, não conseguirá ser mal. O trigo não deve sentir pudor em afirmar-se bom, pois o joio não se intimida em ser mau.

No tempo presente, não nos cabe fazer muita coisa, senão conviver com o mal, tentando, aos poucos, com nosso amor e com nossas ações cotidianas, convertê-lo em bem. E isto está longe de ser conformismo. Não nos esqueçamos que somos trigo. Não somos a roça, nem o dono da roça. Somos a semente boa plantada por Deus. Por vezes, temos a pretensão de mudar o mundo. Como, se não somos sequer os semeadores? Não há muito que fazer, deixemos que Deus faça, pois Ele sabe sempre fazer tudo muito bem. E, quando Ele faz, sempre acerta.

Nós não somos Deus. Ele é que é.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

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Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

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