O sentido do voto para presidente
Dilma Rousseff venceu com 3,5 milhões votos, pequena maioria conquistada em 15 dos 27 estados, incluindo o Distrito Federal, todos o do Nordeste. Na região Norte, perdeu apenas em três inexpressivas unidades federadas: Rondônia, Roraima e Acre. Aécio venceu no Sul, Centro Oeste e Sudeste, exceto Rio e Minas Gerais. Por um triz o mapa do Brasil não fica com duas cores contínuas: vermelho no Norte e azul no Sul.
Por que essa nítida divisão?
As motivações individuais, expressas na vontade de cada cidadão, mascaram as razões macro da escolha. Analisar a opção isolada do eleitor levaria o observador a perder-se nas incontáveis bifurcações da estrada. Melhor é buscar o sentido coletivo do voto, identificar causas no mundo real, fatos que impulsionam milhões de pessoas a confirmar na urna o mesmo número, independente de partido. Aliás, em 2014, mais do que em pleitos anteriores, o eleitor não deu a mínima para os partidos políticos, tão embaralhadas e contraditórias foram as alianças partidárias.
Então, quais as razões fundamentais do voto presidencial?
A lógica está na percepção de cada eleitor, de como o Estado gera benefícios para si e para seu grupo social. E a forma como cada um sente no seu dia a dia a melhoria ou não da sua vida pessoal e dos vizinhos. A esse respeito, é exemplar o programa Bolsa Família. O eleitor de baixa renda ou de renda nenhuma, sente, ele mesmo, o quanto o Estado o vem protegendo da fome e da miséria nestes últimos anos. E quem é o estado? Para ele é Lula. Não é o prefeito que opera na ponta o Bolsa Família. É Lula, é Dilma. E não só a família beneficiada, mas todos os agentes econômicos engajados em atividades produtivas impulsionadas pela circulação permanente dos recursos do Bolsa Família. Do vendedor de picolé caseiro até o supermercado de bandeira estrangeira.
O eleitor do Norte e Nordeste não votou em obediência a seu chefe, ao prefeito, ao vereador. Portanto, não é “voto de cabresto”. Na sua percepção primária da realidade, ao votar em Dilma, ele optou pela segurança de sua família, temeroso de perder a maior conquista “dada” por Lula. O temor de que “eles vão acabar com o Bolsa Família” instigou o voto nessas regiões. E também em Minas com suas áreas deprimidas, iguais as do Nordeste. A essa enorme corrente de beneficiários diretos e indiretos do Bolsa Família, associaram-se intelectuais, que deram colorido ideológico à campanha ao identifica “neles” o viés neoliberal, a ameaçar, no futuro, cortes no orçamento das despesas com transferências sociais de renda. A fala de Aécio, “vou manter e aprimorar o Bolsa Família”, caiu no vazio!
Em essência, a mesma lógica está na outra ponta do mapa (de São Paulo abaixo e o Centro Oeste), onde os interesses coletivos se ajustam a grandes grupos empresariais, aos conglomerados industriais e financeiros, ao agronegócio e cooperativas de produtores. Ali o voto pende noutra direção menos dependente da proteção básica, direta do Estado, mas cuja história é marcada pela obtenção de favores materializados na concessão de incentivos e financiamentos subsidiados. Não que os governos do PT tenham sido indiferentes a práticas desse tipo, mas o “outro lado” é mais sensível, está mais próximo. Em essência, o sentido do voto é o mesmo nos dois brasis. Variam os beneficiários diretos.
E a corrupção? E os outros temas? Voltarei a eles.
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