O Padre Mestre de Cajazeiras
Por Padre Renato
Cajazeiras, cidade que nasceu sob as bênçãos de Deus, pelas mãos de um homem bom, de um homem santo.
Ignácio de Souza Rolim, o Pe. Rolim (22 de agosto de 1800-16 de setembro 1899). Um padre, um asceta, um educador.
Em primeiro lugar um sacerdote. Um homem todo de Deus. Não à toa, um que sentiu em si o chamado para ingressar nas fileiras levíticas e, nos idos do século XIX, mostrou-se um levita digno, à altura do chamado atendido. Padre Mestre, na verdade discípulo, pois soube ouvir e atender aos apelos do verdadeiro Mestre que o chamava para Si.
Um asceta. Destacou-se dos colegas no Seminário de Olinda, onde foi ondenado em setembro de 1825, por S.Ex.cia Rev.ma, Dom Tomás de Noronha, e logo ocupou a cadeira de grego. Bem que poderia ter ficado por lá e ter alçado vôos maiores. Preferiu voltar para o seu sertão, para a terra de seus pais, para a terra das cajazeiras e aqui fundar a escola. Este gesto, por si, já é um gesto de ascese, de abandono intelectual e de profundo despojamento de si. Profundo conhecedor de botânica, desde aqui, fez publicar em Paris, seu “Extrato de Ciências Naturais” (fruto de estudos realizados na área do nosso Seminário Jesus Libertador, que ainda custodia seculares mangueiras seguramente plantadas pelo Padre Mestre); publicou ainda, sua modesta (para hoje) “Gramática Grega”. Poderia ser grande, mas decidiu ser pequeno… não sabia ele que, com este gesto, acabou por se tornar grande aos olhos de Deus e também dos homens. Sem falar no fato de, no final da vida, voltar para a Serraria (localidade mais afastada da já cidade Cajazeiras) e lá viver como um ermitão, comendo pobremente e dormindo em cima de caixotes, como um penitente.
Um educador, pelas mãos do qual passaram grandes nomes que brilharam no cenário público, seja ele civil ou eclesiástico. Neste, podemos citar o primeiro cardeal da América Latina, Sua Eminência, o Cardeal Arcoverde, pernambucano que, como menino, veio beber das fontes jorradas do intelecto do Padre Mestre, sentando-se nos bancos da única escola fixa que havia nestes interiores nordestinos. Ainda, o Pe. Cícero Romão Batista que, conhecido de todos, dispensa maiores comentários e que, graças a ele, devedor que era do Padre Rolim, poupou Cajazeiras das investidas de Lampião. Teria o Pe. Cícero pedido ao Rei do Cangaço nunca invadir a “terra do seu Mestre, Cajazeiras”. E Cajazeiras foi poupada de Lampião. Há polêmicas a respeito de outras invasões de cangaceiros, mas fato é que Lampião mesmo nunca colocou os pés em Cajazeiras, obedecendo ordens de seu “padim” que aqui estudou e que amava esta terra.
Onde está a memória do Padre Ignácio de Souza Rolim? Quando se cultua esta memória? Como cajazeirense, fico triste em saber que este nome vem à baila apenas nos festejos de 22 de agosto. Lastimo que, ainda em tempos de Dom Zacarias, a bula de ordenação do Padre Rolim tenha sido devorada pelos cupins no cofre da Cúria Diocesana; lamento que os despojos do Padre Mestre não tenham ainda um lugar conhecido para, finalmente, repousarem em paz; preocupa-me o fato de que os objetos pessoais do fundador de Cajazeiras estejam “bolando” da torre da catedral, para uma sala do CEFET (última informação que tive) – e, atualmente, onde estão? Da mesma forma que externo o meu pesar por ainda não existir em Cajazeiras o “Memorial do Padre Rolim” (fica aqui a sugestão para a Administração Municipal)
Contudo, por meio deste artigo, e na pessoa da senhora Mercês Holanda, mulher voltada para estas questões concretas, e, nela, a todas as outras, quero parabenizar aos que se preocupam com o resgate histórico de nosso passado. Já é expressão cunhada que “quem não tem passado, não tem futuro”. Grande verdade! Honro-me de ser cajazeirense. E digo isso por onde eu ando. Mas, envergonho-me de descer aos pormenores concretos do que “não existe” em Cajazeiras (um museu, um memorial, um lugar organizado em que se conheça a história de Cajazeiras).
Afinal, parabéns aos cajazeirenses e aos cajazeirados. Firmes e fortes na construção do nosso futuro.
De um filho que a ama,
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