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Francisco Cartaxo

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O ministro José Múcio Monteiro Filho

15/12/2022 às 18h55

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo

Por Francisco Frassales Cartaxo

A disputa eleitoral de 1986 em Pernambuco foi inusitada. A direita preparou o candidato certo: jovem integrante da elite canavieira, sobrinho do influente usineiro e banqueiro Armando Monteiro Filho, ex-ministro do governo Jango. Aos 28 anos, José Múcio era vice-prefeito de Rio Formoso, onde fica a Usina Cucaú, da família. Em 1982, já eleito prefeito tornou- se presidente da CELPE e secretário estadual de Transportes, Comunicações e Energia. Zé Múcio era bonito, de comunicação fácil, simpático, com ou sem o violão, desde o tempo da Politécnica. Com essas credenciais enfrentou o setentão Miguel Arraes, na luta radicalizada entre esquerda e direita.

O debate da Globo foi revelador.

Afeito aos holofotes, Zé Múcio irradiava simpatia e otimismo. Relembro agora o que vi e ouvi. Arraes, com dicção difícil e um pigarro intermitente, aumentava mais ainda o contraste. À pergunta, que fazia o candidato no tempo da ditadura?, o engenheiro José Múcio narrou sua vida de estudante nas melhores escolas do Recife, depois trabalhou duro, percorreu o estado de ponta a ponta como secretário estadual e concluiu enfático: me preparei para governar Pernambuco.

Entre um pigarro e outro, o velho atirou:

– Enquanto a juventude brasileira era perseguida, presa, torturada e morta nos cárceres, meu adversário se alheava dessa realidade e frequentava privilegiados centros de ensino.

O rosto de Múcio apareceu transtornado. Arraes alumiou a face tenebrosa da ditadura. Mito de verdade, o povo lhe deu 61% dos votos! Múcio Monteiro aprendeu a lição. Fez da derrota uma vitória, como confessou à Globo News, no dia nove deste mês, já na qualidade de futuro Ministro da Defesa.

A presença de Zé Múcio no governo da frente ampla, urdida por Lula, surpreendeu a quem não conhece sua trajetória de vida ou não alcança a estratégia do hoje velho presidente da República. Por isso, recordo episódios daquela exemplar disputa partidária e ideológica em Pernambuco. Miguel Arraes (70 anos), havia regressado do exílio, enquanto José Múcio, (38 anos) se preparou para o choque entre o velho e o novo. O novo juntava forças econômicas e políticas que deram sustentação à ditadura. O velho encarnava o clima de liberdades democráticas criado após conquistas populares, a anistia política à frente. Daí o tiro certeiro dos marqueteiros: o velho é o novo e novo é o velho! Arena/PFL/PDS vestia branco. MDB/PMDB exibia o verde: a esperança está de volta! Quem defendera a ditadura usava o branco para tentar desviar-se dos clamores dos perseguidos: deportados, desaparecidos, presos, torturados e mortos nas prisões. Apelavam para anticomunismo. Vi e ouvi em programas de televisão horrores contra Arraes!

O mundo é outro. As pessoas se amoldam à nova realidade geopolítica. José Múcio aprendeu muito com Arraes, penso, tanto que foi seu ministro. Por que estranhar, agora, sua volta ao governo da frente ampla construída por Lula?

O autor foi Assessor Especial do governado Miguel Arraes


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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