O Inconsciente Coletivo
Por Padre Renato
Há aproximadamente dois meses, na cidade de Veracruz, Departamento de Perote, no México, os primeiros casos de “gripe suína” foram diagnosticados. Até a terça feira desta semana, cento e três pessoas morreram; os contaminados pela nova versão mutante do vírus “influenza” ultrapassam a casa dos duzentos naquele país; oito outras nações de diversos continentes registram casos da mesma doença. Na “aldeia global”, há contaminados até mesmo na Nova Zelândia, em pleno Oceano Pacífico.
Rapidamente, os diversos governos nacionais estão tomando providências para impedir que aconteça uma “pandemia”. Portos e aeroportos, sob intensa vigilância das autoridades sanitárias, se transformaram em trincheiras a fim de impedir o avanço da doença.
Este fato traz à baila uma reflexão a respeito do “inconsciente coletivo”, já analisado por Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, segundo o qual existe uma espécie de senso comum que unifica a experiência da espécie humana de todos os tempos e lugares que contribui para a síntese das manifestações culturais, particularmente expressas nos sonhos e nos relatos míticos. Alguns grupos, talvez motivados por teorias conspiracionistas, vão além do pensamento junguiano, utilizando o conceito de inconsciente coletivo como trampolim para conclusões que merecem um pouco de nossa atenção.
Pelo sim, pelo não, é certo que, ao longo da história, a humanidade, às vésperas de alguma catástrofe de proporções, demonstrou um estado de inquietação que beirou a previsibilidade de tal acontecimento. Comparação bastante aproximada é a de alguns animais que, possuidores de sentidos apuradíssimos, se preparam de forma adequada para enfrentar as agruras dos fenômenos naturais. Clássicos são os exemplos das formigas que procuram, antes do início do inverno, lugares altos, antevendo alagamentos, ou do joão-de-barro que constrói sua casa com a entrada voltada para o sentido oposto à vinda das chuvas.
A espécie humana também possui este instinto natural. Não falo aqui dos famosos “profetas da chuva”, considerados por mim exímios observadores do comportamento da natureza. Falo do estado de inquietação, de angústia e de euforia generalizada de caráter apocalíptico que pode ser facilmente constatado em momentos pontuais da história.
Na virada do primeiro milênio da era cristã, inúmeros trovadores faziam sortilégios e compunham “canções de fim do mundo”. Felizmente, o “armagedom” não se deu; no entanto, algum tempo depois, no século XIV, a “peste negra” (peste bubônica) exterminou cerca de 75 milhões de pessoas, um terço da população mundial de então.
No começo do terceiro quartel do século XVIII, mais precisamente às 09h20m do dia 1º de novembro de 1755, Lisboa era assolada pelo famoso terremoto que mataria, somente naquela cidade, cerca de cem mil pessoas. Além dos tremores de terra de atingiram 9 pontos da escala Richter, incêndios e ondas gigantes de trinta metros atingiam todo o litoral oeste da Europa, numa extensão máxima de 250 metros. Efeitos sísmicos se fizeram sentir desde a Finlândia até as longínquas ilhas de Martinica e Barbados, na América Central.
As inquietações políticas e econômicas culminaram com à primeira e à segunda guerras mundiais e suas dramáticas cenas. O século XX foi permeado de conflitos em diversos pontos do globo.
Em nossos dias, parece que o inconsciente coletivo está mais vivo que nunca. É pouca a confiança recíproca, a onda de violência e as doenças invencíveis contribuem para a formação de um horizonte suspeito.
Afinal, a “gripe mexicana” é manifestação inquieta do inconsciente coletivo ou de mais uma tragédia já em curso?
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