O histórico livro do doutor Couto Cartaxo
Antônio Joaquim do Couto Cartaxo foi o segundo cajazeirense a formar-se pela Faculdade de Direito do Recife, em 1862, quando Cajazeiras ainda era povoação do município de Sousa. Dois anos depois, já exercia o cargo de juiz municipal e o mandato de deputado provincial na Paraíba. Dividiu-se entre a advocacia, a política, a magistratura, a pecuária e a agricultura, nas províncias da Paraíba e do Ceará, onde residiu longo tempo, após casar-se com Maria Leopoldina Dantas. Findou seus dias na fazenda Araticum, perto de Mauriti, em 1904, pouco anos depois de, como deputado federal pela Paraíba, integrar a primeira Assembleia Constituinte da República. Afinado com princípios e convicções do seu grande mestre, padre Inácio de Sousa Rolim, deixou sua marca no legislativo brasileiro.
Percorreu invejável trajetória profissional e política.
Doutor Cartaxo, como se fazia conhecido, é figura central do mais sangrento episódio da história de Cajazeiras.
Refiro-me ao entrevero político-eleitoral, armado, ocorrido em 18 de agosto de 1872, na Praça da Matriz, quando morreram seis pessoas e outras tantas ficaram feridas, além de saques em casas comerciais e residências, durante muitas horas daquele fatídico dia. Não estando em Cajazeiras, Antônio Joaquim do Couto Cartaxo deixou de ver seu jovem irmão, tenente da Guarda Nacional, João Cartaxo, de apenas 24 anos, ser atingido por um balaço no patamar da igreja, onde haveria eleição. Mesmo assim, afirmo, com plena convicção, que doutor Cartaxo se tornou o personagem mais importante daquela tragédia. Com a experiência de advogado, juiz, deputado provincial, ele foi a peça fundamental na condução dos passos de familiares e correligionários do Partido Liberal (e até de adversários do Partido Conservador) na luta para punir os responsáveis pela bárbara chacina de 18 de agosto de 1872. Aliás, já registrei isso, com base documentos, no livrinho Antônio Joaquim do Couto Cartaxo e a formação de Cajazeiras, que a Arribaçã Editora lançou em agosto passado. Nele menciono a existência do livro Histórico do morticínio eleitoral em Cajazeiras, de autoria do doutor Couto Cartaxo, editado pela gráfica do jornal Liberal Parahybano, em 1877. Ali, escrevi em nota de rodapé: Há trinta anos, tento em vão encontrar um exemplar dessa obra, talvez, a reunião de documentos, artigos, discursos do ilustre parlamentar cajazeirense.
Pois bem, o advogado cajazeirense, Francisco Sales de Albuquerque, localizou o tão procurado livro no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco, do qual é membro. Foram frustradas as buscas que José Antônio de Albuquerque e vários outros pesquisadores fizemos em muitos lugares, inclusive no próprio IAHGP. Agora, sim, em breve, teremos o livro digitalizado, após receber cuidadoso tratamento de conservação de suas 290 páginas, me assegurou Sales de Albuquerque, afinal, a preciosa obra tem 142 anos!
Achado de enorme significação.
Muito além do interesse familiar, encaixa-se no quebra-cabeça dos primórdios da história de Cajazeiras e se estende aos atuais municípios de São José de Piranhas, Monte Horebe e Bonito de Santa Fé. Por quê? Muitas pessoas envolvidas no morticínio eleitoral são personagens históricos desses lugares, que integravam à primitiva divisão político-administrativa do município de Cajazeiras. Sem contar, é claro, os reflexos na política paraibana do século XIX.
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