O golpe em marcha
Por Francisco Frassales Cartaxo
Não há na história do Brasil nada parecido, em termos reais e simbólicos, com o vandalismo de domingo em Brasília. Aquilo não foi obra só de malfeitores raivosos. Ali se cumpriu uma etapa do assalto às instituições democráticas, planejado, coordenado e executado por comandos, que já haviam levado milhares de pessoas para a frente dos quartéis. O apelo patético forças armadas salvem o Brasil ou intervenção militar já mudou de lugar por não encontrar eco. Os golpistas mudaram a tática para o ataque físico aos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Primeiro, destruir os símbolos e, com isso, provocar o caos, forçando a presença dos militares no proscênio. Falharam de novo. A reação imediata ao golpe deu-se em obediência às salvaguardas legais, articuladas pelos três poderes republicanos e os entes da Federação.
Todo golpe tem início, meio e fim.
Esse começou quando se pôs em marcha tentativas de desmoralizar os Poderes Judiciário e Legislativo, de debochar de ministros ou fazer bravata do tipo, para fechar o Congresso bastam um jeep, um cabo e um soldado. Colocou-se em dúvida a lisura das urnas eletrônicas, repetindo-se que nem cantiga de grilo, despida de qualquer base real. Viram o silêncio hierárquico dar foros de verdade a boatos, largamente espalhados em redes sociais e tribunas parlamentares. Eis aí a origem e a preparação das trilhas que conduziram, no dia 8, milhares de pessoas à ação criminosa no Planalto.
Falta deslindar a materialidade dos crimes.
As prisões efetuadas, investigações e processos legais em andamento vão iluminar os rastros criminosos. Quem planejou. Quem organizou. Quem mobilizou. Quem financia as despesas, desde os acampamentos patrióticos até agora. Quem são os mentores da delinquência democrática. Enquanto tudo isso não ficar claro para a sociedade brasileira o golpe estará em marcha. Daí porque se impõe rigor na apuração legal, com apoio e colaboração dos três suportes democráticos da República. Os mesmos que foram ver a barbárie praticada no Supremo Tribunal Federal, na noite de terça-feira, lado a lado com os governadores de estado. Aqui, outro gesto emblemático, projetando a união federativa para a reconstrução do Brasil.
Não são apenas gestos simbólicos.
São ações reais, concretas, materializadas, por exemplo, no envio a Brasília de tropas policiais estaduais, a fim de reforçar a defesa da democracia, que uma minoria fanática e irresponsável quer destruir.
Autor do livro Do bico de pena à urna eletrônica
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