O fenômeno Gobira
Escrevo estas linhas sob o impacto do que vi e ouvi em Cajazeiras no começo da semana. Nas ruas, em lojas, escritórios, bares, onde se juntam duas ou mais pessoas, o assunto é um só: o fenômeno Gobira. O surgimento de inusitado fato eleitoral. No início, parecia brincadeira, fruto do espírito galhofeiro dos cajazeirenses. Mas não é. Um sapateiro querer ser deputado federal? Tinha graça! Atrás das extravagâncias de Gobira, crescem adesões espontâneas da população sertaneja, carregada de contestação ao sistema de compra e venda de votos. Sistema viciado, envelhecido, seboso. Nocivo à democracia. O que parecia apenas uma piada, hoje está claro, gerou dor de cabeça nos chefes e chefetes políticos. E alegria no povo.
O balcão de compra e venda de votos tem íntima relação com antiga frustração de Cajazeiras, não eleger um representante legítimo para a câmara federal, identificado de verdade com a terra, mesmo sendo o sétimo colégio eleitoral da Paraíba. Alguém sem o discurso vazio, repetido de quatro em quatro anos. Alguém com espírito público que não cuide somente dos seus próprios negócios… Isso mesmo, negócios. Às vésperas da eleição, o deputado federal encosta nos vendedores de votos, cochicha, regateia, fecha o negócio. Prefeitos, ex-prefeitos, candidatos a deputado estadual, vereadores prometem entregar a mercadoria (tantos votos) em troca do recebimento de xis mil reais. Assim se faz anos a fio: o candidato a federal paga em prestações a mercadoria (lote de voto) para receber no dia da eleição. Negócio eleitoral perfeito. Ele vai para Brasília e pronto, não assume nenhum compromisso com o desenvolvimento da cidade e da região, a não ser que usufrua ganhos pessoais e familiares com suas emendas parlamentares… Exemplos? Basta ver a conduta dos deputados votados no Alto Piranhas! As exceções são pouquíssimas.
E daí, onde entra Gobira nessa história?
Cajazeiras resolveu dar um basta nisso. Cansou de ser mercadoria em mãos alheias. Pelo visto, este ano vai faltar votos para saldar os contratos feitos à socapa. Os vendedores andam nervosos, com insônia. Os compradores estão revisando seus investimentos… Bem feito, quem mandou negociar feijão na folha sem a certeza do inverno? Aqui entra Gobira. Menos pelas suas qualidades, quase ausentes para o cargo pleiteado, e mais pelo que representa. Antônio Gobira, um sapateiro pobre virou símbolo. Símbolo da insatisfação, da revolta dos que se sentem enganados a cada eleição. Ele canalizou o protesto de uma cidade de mais de 40 mil eleitores, que hoje realiza caminhadas e carreatas iguais às conduzidas pelo rebelde Bosco Barreto nos idos de 1970.
A campanha eleitoral se transformou em festa.
O povo alegre nas ruas diz a compradores e a vendedores de votos: Cajazeiras deixou de ser besta. Enganem lá fora. Aqui não. Neste território independente vocês não têm vez. Podem chiar, gritar, berrar à vontade. Nas ruas o povo manda um recado democrático, simbolizado no voto a Antonio Gobira. E tem mais, é bom parar com as tentativas de comprar Gobira. Gobira não é mais ele. Fez-se bandeira. Bandeira do protesto contra deputados bissextos, inúteis para a maioria da população. Há outra coisa, a onda Gobira vazou para outros municípios do alto sertão. Se continuarem a bater nele, como fizeram vereadores de Cajazeiras e um ex-prefeito, o fenômeno Gobira pode chegar ao litoral. Aí, leitor amigo, explode na Paraíba um novo Tiririca!
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