O Espírito Santo não dorme de touca
Nos últimos dias, vivenciamos momentos muito importantes para a vida da Igreja.
A renúncia do papa Bento XVI e seu impacto inicial foram sinais da renovação pela qual passaria a barca de Pedro. Há muitos séculos um papa não renunciava, não obstante a previsão jurídico-canônica para tanto. Longe de ser sinal de covardia, o gesto do papa emérito inaugurou tempos novos.
Os dias que antecederam ao conclave, durante a chamada “Sé Vacante”, foram decisivos para que ao mundo fosse dada a real possibilidade de entender o que de fato é a Igreja: bela e sempre renovada. Para isto, contribuiu a mídia que, sejamos honestos, deu o devido enfoque à questão.
A atenção dispensada justifica-se, haja vista não ser o papa um simples e obscuro religioso, mas, muito pelo contrário, ser um influente chefe de Estado com papel decisivo no cenário mundial. Ademais, é o papa o líder espiritual de mais de um sexto da população mundial. Isso conta, e muito. Todos param para ouvir o papa, mesmo os que com ele não concordam.
Às fartas, pela mídia honesta, ou nem tanto, os “escândalos” da Igreja foram publicados: as supostas disputas de poder entre cardeais, o vazamento de informações sigilosas sobre as contas do IOR, o “banco do Vaticano”, o famoso relatório sobre o “vatilaeks” que, lacrado, espera pelo novo papa, o problema da pedofilia, a renovação da Cúria Romana, entre muitos.
Escândalos tão humanos quanto humanos são o papa, os cardeais, bispos, padres, os pais e mães de família espalhados pelo mundo inteiro. Nada há de humano que não seja conhecido da Igreja, principalmente “as alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje”, pelo simples fato de a Igreja ser “perita em humanidade”.
E, no meio de tudo isso, após a quinta rodada de votação, no segundo dia do conclave, os cardeais escolheram um argentino, de semblante simpático e que lembra João XXIII, o “papa bom”.
Um homem pobre e de gestos simples, que cuida do próprio jardim e que cozinha a própria comida, que não tem condução própria e utiliza os meios públicos de transporte. Um homem do antigo “terceiro mundo”, religioso (finalmente, um não diocesano), que, graças a Deus, somente morou ou trabalhou na sua Argentina, e que, por não gostar da pompa e da formalidade, ia ao Vaticano somente quando necessário.
Um homem de fibra que, sorridente e silencioso, é eficaz no que se propõe fazer. Um homem de coragem que, fiel ao ensinamento da Igreja, não temeu deixar clara em sua Argentina a verdade de que o casamento homossexual e o aborto contrariam a vontade de Deus para a humanidade.
E que escolheu o nome de “Francisco”.
Novidades após novidades, o papa Francisco, assim como o “pobrezinho de Assis”, tem uma Igreja a ser restaurada radicalmente, a partir da Cúria Romana, em que, mesmo com a presença de grandes santos que lá trabalham, está muito deteriorada.
Seus primeiros gestos no balcão da Basílica de São Pedro foram simbólicos, mas muito reais: convidou os presentes a abençoá-lo e inclinou-se para receber a bênção do povo, assim como nós, ao final da missa, nos inclinamos para receber a bênção do padre; não apareceu vestido de mozeta vermelha e estola papal, mas somente com a conhecida “batininha” branca; convidou o povo a rezar (nunca um papa tinha feito isso antes) e, com ele, proferiu o Pai Nosso e a Ave Maria não em latim, num belo gregoriano, mas, sim, em italiano, para que todos pudessem rezar.
Sim, parece que estamos presenciando o início da necessária renovação da Igreja, aquela que a recolocará no lugar de onde nunca deveria ter saído: o da simplicidade de um Francisco. Porque, afinal, como gostava de dizer o saudoso Dom Zacarias, bispo de Cajazeiras, “o Espírito Santo não dorme de touca”.
Rezemos pelo papa Francisco e pela Santa Igreja.
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