O Banco do Brasil e o mensalão
No auge do processo de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso corriam rumores segundo os quais o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o Banco do Nordeste seriam repassados ao setor privado. Pelo menos um desses bancos, a Caixa Econômica Federal, estava sendo preparado para ser vendido. Tanto que uma Consultoria, contratada para sugerir o seu fracionamento, já havia produzido Relatório técnico propondo a divisão da secular instituição financeira em três partes. O modelo institucional encontrava-se formatado para privatizar o pedaço mais lucrativo da Caixa. A eleição de Lula estancou esse processo. Nessa época muitos de nós, bancários, fomos para a trincheira de luta defender do furor neoliberal de FHC o patrimônio dos brasileiros, representado pelos bancos estatais. E pela Petrobras, que também estaria na fila.
Com o julgamento da Ação Penal 470, pode-se enxergar o lado oculto da moeda. A maioria dos brasileiros espanta-se agora com a audácia do Partido dos Trabalhadores ao usar, ilicitamente, o Banco do Brasil como fonte de recursos destinados a alimentar seu projeto de poder. Isso ficou claro com a condenação, por unanimidade, de Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, pela prática dos crimes de corrupção passiva (recebimento de propina), peculato (desvio de recursos públicos), além de lavagem de dinheiro, como bem demonstraram os ministros do Supremo Tribunal Federal. Portanto, Henrique Pizzolato usou nossa mais importante instituição bancária para abastecer o caixa 2 e, também, para outros fins subalternos, igualmente nocivos à democracia, conforme veredicto do STF, ainda não concluído formalmente, porém, já externado de público pelos seus membros.
Henrique Pizzolato é uma figura obscura no mundo político.
Segundo a imprensa, é um “petista histórico que atuou ao lado de Delúbio Soares na arrecadação de recursos para a campanha presidencial de 2002”. Talvez por isso, ele tenha sido nomeado diretor do Bando do Brasil, com a incumbência de operar o esquema das transações financeiras, nada republicanas, só agora reveladas às claras, graças ao julgamento transparente do mensalão. Cabe a pergunta: Pizzolato agiu de modo próprio ou a mando de quem? A resposta está sendo dada no decorrer do exame dos outros segmentos do julgamento da Ação Penal 470.
Talvez só na última fase, quando o STF julgará o núcleo político do mensalão, a resposta emergirá límpida e convincente.
Não me acode à memória ter acontecido esquema de corrupção tão prejudicial ao Brasil, salvo no governo Fernando Collor, quando PC Farias comandou o saque aos cofres públicos, mediante colocação em cada órgão federal de um preposto com a missão de arrecadar dinheiro para dar corpo ao projeto de 20 anos de poder da “república de Alagoas”. Recorda o leitor? Naquele tempo, nem o Banco do Nordeste ficou imune a essa desdita, quando era presidido por um afilhado de Antônio Carlos Magalhães, então uma espécie de vice-rei do Nordeste. Sorte que o movimento “fora Collor” agigantou-se nas ruas e na mídia, livrando o Brasil da quadrinha de malfeitores, muito embora o Ministério Público e o Judiciário tenham deixado escapar a ocasião para concluir o trabalho de limpeza, iniciado nas ruas e findo na etapa política, com derrubada do presidente Collor no Congresso Nacional.
O mensalão ainda está em julgamento. Pela metodologia adotada pelo ministro relator, Joaquim Barbosa, de examinar o processo em blocos selecionados deve varar setembro e, talvez, ir além da eleição municipal. Impossível prever, com absoluta certeza, seu desfecho, mas já se tem indicação suficiente para concluir que o jargão “sem medo de ser feliz”, repetido com sincera emoção durante muitos anos, assume hoje um gosto amargo para milhões de brasileiros que acreditaram no primado da ética como um dos pilares do “jeito petista de governar”, conquanto ninguém possa apagar da história os grandes avanços sociais e econômicos do governo de Lula.
Cajazeirense, aposentado do BNB. [email protected]
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