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José Anchieta

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Nossas Cavernas

18/05/2009 às 14h18

Feixes de luz iluminam permanentemente o ambiente escuro em que as sombras são a realidade inquestionável: nada além delas existe. Olhar para fora daquele ambiente e contemplar outras realidades que não as sombras é até mesmo arriscado, dizem.

Quem ousaria fazer aquilo? Tudo já estava predisposto, bastava olhar para as sombras. Elas “eram”. Mas, um dia, alguém olhou! E cometeu algo que muitos antes já tinham feito, mas não assumiram o risco de tê-lo feito. A aura de segurança e de proteção que a caverna oferecia estava rompida e, como que expulso do “paraíso”, o aventureiro descobre que nem só de sombras é feito o mundo; por mais que elas fornecessem uma idéia da realidade, na verdade, elas não eram a realidade.

Uma realidade diferente, mas convergente; aliás, sombras daquela realidade. Formas de ser que, por projeção, eram lançadas na parede para que olhos estáticos as contemplassem. O que mais interessa: o próprio ser ou a projeção de sua sombra? Certamente o próprio ser, em que pese o distanciamento e o ocultamento que as sombras nos dão. Mas…

Agílimo, aquele que descobriu o novo mundo voltou para os seus e contou com ar entusiasmado o que viu. Tudo em vão… os outros não quiseram deixar a estabilidade inalterável daquele lugar para aventurar-se num mundo real.

O mito da caverna, de Platão, pode ser a vivência de muitos de nós que nos conformamos com as sombras, pouco arriscando ir além para descobrir o é que as produz, a saber, a realidade. Aquietamo-nos com as sombras, atribuindo a elas o valor do real. Afinal, elas próprias são projeção do real e isto nos basta. E ponto final, até o fim.

Somos, assim, comodistas, preguiçosos, medrosos e covardes. Estamos na caverna, até mesmo acorrentados e renitentes em olhar para fora e descortinar o mundo da luz, onde as realidades estão.

A gente vai vivendo e a vida vai pregando peças na gente.

Sonhos concluídos se transformam em sombras estáticas, se não nos colocamos em permanente busca. As buscas não cessam nunca e muitos que passam por esta vida manifestam-se inquietos. É bom ser inquieto! É bom estar buscando sempre! É bom não se conformar com as sombras!

Uma vez descoberta a realidade, aquilo que parecia distante, longínquo, ou até mesmo morto, apresenta-se mais vivo que nunca, mais próximo que tudo e mais concreto do que parece ser.

O que era informe e trazia o aroma do nada, vai, aos poucos, sendo entregue ao ser e tomando forma.

Em lugar do comodismo e da monotonia gélida, o calor aconchegante da realidade faz com que uma esperança renovada surja num coração empedernido pela caverna e pelas sombras.

Células de vida pululam quando da mudança para o calor do sol. A umidade da caverna, por mais protetora que seja, mofa.

Mudar, arriscar, renovar, abandonar velhos conceitos e buscar novos rumos faz parte da vida. Às vezes, necessário é; às vezes, obrigatório é, por uma questão de consciência.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

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