Modernidade enviesada
De repente, as palavras relutam em se articularem em frases ponderadas e, até mesmo, poéticas. O caos do pensamento provoca uma profusão de sentimentos que se misturam e entravam uma manifestação coerente do que dizem e sobre o que falar. Passos alheios ecoam em outras dimensões a lembrar a existência de vida na imensidão da solidão da criação. São pessoas e seus sonhos. São vidas e possibilidades. Mas tudo parece assombrar a quietude da confusão mental. Nada parece fazer sentido.
Nesse antepasso a cidade começa a silenciar sobre as sombras da noite que avança. Em suas ruelas apenas meninas prostituidas expondo suas entranhas a mercancia. Em seus becos e bancos meninos esquecidos abafam sonhos de futuro em pedaços de pizzas barganhados na caridade alheia. Pequenos delinqüentes arquitetam ilegalidades na esfumaçada realidade das pedras de crack. Um apito corta a noite na vigilância ilusória de um guarda noturno. Ao longe sirenes de ambulâncias e viaturas policiais ressoam sons aterradores que aliam e casam vida e morte na dialética performance da existência e de sua negação.
Ante a impossibilidade de não conseguir refletir sobre o nada algumas inquietações angustiam a alma. Penso sobre a cidade e as freqüentes afirmações das autoridades policiais reconhecendo que o tráfico e consumo de drogas foge ao controle. De repente, a saudade de um tempo de inocência que se esvaiu nas brumas das lembranças e que recomendava colocar uma bacia de água na porta, à noite, para neutralizar os efeitos da maconha, droga perigosa e utilizada por meliantes para neutralizar inocentes vítimas. Um tempo em que até mesmo a marginalidade e a criminalidade tinham certo charme. Um tempo em que o silêncio de ruas precariamente iluminadas evocava lembranças de estupradores violentos e desumanos. Rostos que pertenciam mais ao imaginário popular do que as sendas da verdade.
A impotência da criação também se aloja na publicizada perplexidade de autoridades diante do crescimento da prostituição de jovens imberbes na cidade. Meninas que, rompendo precocemente a infância, se anunciam no mundo adulto vendendo seus corpos no mercado perverso do sexo, revelando suas intimidades para alimentar sonhos que o mundo do consumo constrói como castelos de cartas que desmoronam nas precoces gravidezes e nas maternidades antecipadas em crianças concebidas como descuido e relegadas ao mundo como estorvos.
Estas ponderações são apenas meras divagações de um dia em que a criatividade é embaçada pela realidade de uma cidade que, crescendo, ganham os ares e males da nossa enviesada modernidade.
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