Minas de ferro em Patamuté
Há muito tempo se fala na existência de jazidas ferro em Cajazeiras. Coisa antiga. De novidade se tem a presença entre nós, neste começo de século 21, de pesquisadores de empresas estrangeiras e a expectativa favorável que gera em parte da população. E também um olhar descrente de muitos. A especulação vem de longe, de muito longe. Foi até objeto de anúncio oficial ufanista feito pelo presidente da província da Parahyba do Norte, Ambrósio Leitão da Cunha, em Relatório ao sucessor, no longínquo ano de 1860. Isso mesmo, 1860, quando Cajazeiras não havia sequer adquirido o status de vila. Portanto, era apenas um distrito do município de Sousa, embora já fosse sede de paróquia, a de Nossa Senhora da Piedade, criada por Lei de 29/08/1859, assinada pelo próprio Leitão da Cunha.
Ambrósio Leitão da Cunha era paraense. Presidiu também as províncias do Pará, Pernambuco, Bahia e Maranhão. Exerceu mandatos de deputado geral e senador. E foi ministro no regime parlamentar imperial. Governou a Paraíba de 4 de junho de 1859 a 13 de abril de 1860. Neste curto espaço de dez meses, teve o privilégio de recepcionar o imperador Pedro II, na única visita do monarca à Paraíba. Em seu Relatório de prestação de contas, datado de 13 de abril de 1860, ele dedica um item à “Comissão Científica”, para anunciar a boa-nova aos paraibanos:
“O governo imperial, solícito como é pelo desenvolvimento imperial e engrandecimento futuro do nosso país, mandou uma Comissão Científica, composta por homens profissionais, estudar e explorar o interior deste vasto e rico Império, tão pouco conhecido ainda no domínio das ciências.” “O chefe da sessão geológica desta Comissão, Dr. Guilherme S. de Capanema, seguindo em sua excursão científica da província do Ceará certas camadas e formações geológicas, atravessou o Termo de Sousa, e no lugar denominado Patamuté, pouco distante daquela cidade, descobriu uma mina abundante de ferro magnético, quase puro, e de excelente qualidade, que, segundo a informação recebida, em nada tem a invejar a melhor qualidade do ferro d’Alba e da Suíça.” “A comunicação desta importante descoberta constitui o assunto de ofício que, com data de 26 de fevereiro deste ano, tive a satisfação de receber hoje, e me foi dirigido da cidade de Sousa pelo chefe da sessão etnográfica, Dr. Antonio Gonçalves Dias.”
E prossegue o então governante da Paraíba em lamentos pela ausência de pormenores acerca da notável descoberta, mas, ainda assim, faz a apologia do uso do ferro, aponta dificuldades de “concorrer nos mercados da Europa com o ferro estrangeiro; convém, todavia, nacionalizar-se uma indústria que, em pequena escala pode abastecer nosso mercado de ferro de boa qualidade” etc.etc.
Como é fácil deduzir, o presidente Leitão da Cunha queria mesmo era faturar a notícia numa jogada de marketing à moda antiga, porém, muito próxima das comunicações feitas com estardalhaço, em nossos dias, por políticos, sempre prontos a enganar a população, com promessas mirabolantes. Às vezes, fantasiosas, como fez, apressadamente, o presidente Ambrósio Leitão da Cunha, ao comparar o ferro de Patamuté com o da Europa e considerá-lo de igual qualidade, muito embora tivesse baseado suas afirmativas em dados preliminares contidos num simples ofício de um profissional que sequer tivera condições de analisá-los com cuidado…
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