Meus lugares no mapa
Por Mariana Moreira
A inveja me consome a cada página lida. A cada verso mastigado deixa escorrer por entre lábios e encanto o sumo de palavras e rimas, atiçando minha incompetência em simplificar e sintetizar sentidos de vidas, amores, desejos, dores, prazeres em contidas, mas expressivas e resumidas palavras.
E entre tantos outros lugares que não estão no mapa me encontro na emoção da adolescente de treze anos que consome o mar de Cabo Branco pela primeira vez, levada pela carinhosa mão do primo padre. E aquela imensidão de verde em permanente movimento me devora retinas e emoções, paralisando olhos acostumados ao pequeno açude de Impueiras, cujas águas sumiam sempre nos primeiros ventos quentes de outubro.
E mudo de clima. Me transporto para a assustada, mas curiosa, estudante do Curso de Comunicação Social da UFPB.
Sertaneja desenhada nos coriscos e clarões das madrugadas de intensas chuvas e trovões que ficavam a ressoar pelos grotões do Quati enquanto um alegre pai festejava a “boa nova molhada”, não sentia nenhum prazer naquela chuva recorrente e com acanhados trovões que se escondiam trás da Mata do Buraquinho.
Realmente, poeta, não alimento nenhuma dúvida que “os relâmpagos e trovões do litoral não nasceram um para o outro”.
E a memória que enferruja a alma também caminha por tantas beiras de estradas entre casas e casebres, anônimos e tímidos, de sardentos e alegres cães, de redes atiçadas pelo vento, de estórias de “papa figo” e “visagens”, que povoavam a cabeça e o medo da menina magrela no caminho da escola.
Memórias que caminham, não por solares, mas por alpendres, sombras de cajazeiras e imburanas, onde irmãos se lambuzavam com roletes de cana, diligentemente cortados pelo pai e dispostos em cuias de cabaças. Meninos com caras e buchos riscados com os filetes de garapa que se misturam com a terra e a poeira de folguedos e gritos serelepes. E no fogão de lenha o cheiro do rubacão temperado com nata e folhas de coentro e cebolinha lembra uma míope mãe que enxergava longe os meninos que, adultos, se dispersam pelo mundo, enquanto ela vira estátua, em sua cadeira de balanço no alpendre de Impueiras, trazendo no colo a “caixinha de surpresa, em nossa infância sem fim”.
E me territorializo no hoje. E tantas vezes me quebro em migalhas por não corresponder “as expectativas alheias, que só nos aceitam como espelhos”.
Mas, me consolo e me refastelo porque, como você nos traz, como desjejum, também acredito e, faço dessa crença rota de viver, desfraldando que “o vício não está onde a gente pensa, mas no poema que a gente não lê”.
E os seus, Linaldo, li todos e, assim, estou perdoada do pecado da inveja, por não ter a destreza do poeta, de traduzir em versos o que estico em longas prosas.
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