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José Antonio

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Memórias urbanas ou as calçadas e os vizinhos

15/08/2015 às 00h28

Por José Antônio

A poetisa cajazeirense, já falecida, Teté Assis, em sua poesia “Recordando Cajazeiras”, de 1964, se expressava:
 “Cajazeiras! Cajazeiras!
De longas calçadas altas,
Sem pracinhas, sem jardins.

As casas de residências
Viviam sempre abraçadas,
Enfeitadas de janelas,
Por onde a luz se escoava”.

Foi nos meus alfarrábios que encontrei esta bela poesia de Teté e relendo alguns versos dela fiquei a me perguntar pela Cajazeiras do passado.

As calçadas já não vivem mais enfeitadas de pessoas, quando a noite cai, após o jantar, para aguardar a chegada do “vento refrescante das bandas do Aracati”, enquanto isto… rolavam as mais diversas conversas, dentre elas sobre o comércio, os preços altos da carne e do feijão, as chuvas, os filhos e o cotidiano.

As calçadas tradicionais de Cajazeiras perderam o seu verdadeiro sentido e encanto.

As cadeiras de balanço sumiram. 

As calçadas simplesmente já não fazem mais parte da casa. Quase todas as estórias de “trancoso” que ouvi na minha meninice foram em derredor de uma cadeira, ao lado de outros meninos da vizinhança, todos sentados no chão e de cabelos arrepiados com o desenrolar do conto. As de lobisomem, sobre o céu e o inferno eram as preferidas. 

A falta de segurança não foi fator determinante para a “morte das calçadas”, não numa cidade como Cajazeiras, que ainda é muito calma e tranqüila. A televisão, talvez, seja a causa principal. Ela simplesmente substituiu o contador de anedotas que fazia a festa da criançada e dos jovens, que das calçadas tinham como cenário o céu e as estrelas como tela.

E os vizinhos? Estes também quase não mais existem. Já não se ouve o grito da mãe mandando o menino entrar em casa para não incomodar os vizinhos. 

Você já observou que as casas de hoje já não são “mais abraçadas” como na poesia de Teté? Que não é mais possível ficar olhando da janela o namorado passar ou mesmo a banda de música, porque as casas estão distantes do leito da rua e entre ambos existe um imenso jardim separando-os?  O romantismo da janela acabou. Aqueles pequenos momentos do cochilo do pai após o almoço era a hora de o namorado chegar à janela para bater um papo e dar um beijinho na mulher amada, também já é coisa do passado.

E os muros das casas? Já não são mais de varas ou bem baixinhos, para poder as comadres pedir emprestado um pouco de açúcar ou dar de presente o primeiro prato de canjica que saiu do fogo ou dar a última informação sobre o casamento do filho de um amigo ou ainda atualizar, bem cedinho, antes dos meninos acordarem, as fofocas e futricas da cidade. Será que Cajazeiras não é mais uma terra de “muro baixo”? 

Ah! A poesia de Teté me fez ir buscar no baú de minhas lembranças muitos momentos alegres e saudáveis das minhas janelas, dos meus vizinhos e das diversas calçadas de minha Cajazeiras. 

Pelas janelas do coração, não mais a luz, mas só as saudades e as lembranças que esmorecem, mas não morrem, diante da modernidade dos dias atuais. São sentimentos imperecíveis, difíceis de serem arrancados do coração, são paixões desenfreadas e desmedidas que permanecem nas nossas entranhas que só a morte poderá extinguir.

Edição Especial
O GAZETA estará circulando na próxima semana com um suplemento especial em comemoração ao dia da cidade, data do nascimento do Padre Rolim, que é o 22 de agosto. Além das mensagens, publicaremos fatos relevantes da nossa história e em especial sobre a história da aviação, em Cajazeiras, desde o tempo saudoso em que nós vivíamos ouvindo o ronco do Teco Teco de Antonio Tomás, Pioneiro da Aviação Sertaneja e que hoje nos faz uma imensa falta.  Avisamos aos assinantes que o jornal não circulará na sexta, dia 21, mas no sábado, dia 22.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

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