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Saulo Péricles
Domingo 23/fev 12:42h

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Ignorância e convicção de que os problemas se resolvem com chuvas

30/01/2025 às 20h05

Foto: Alex Art's

Por: Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira – Caros leitores: todos nós sertanejos somos desde o berço instados a ter a convicção de que as precipitações pluviométricas iriam resolver nossos problemas, e desde a infância que nós vivemos a olhar para o nascente e com a ajuda dos mais velhos criarmos os mais diversos métodos de adivinhar como seria a quadra invernosa. A isso, se juntaram os famosos “profetas”, que com seus métodos empíricos ou mesmo fantasiosos prediziam como seria a próxima estação chuvosa. Tudo na base do empirismo. Meu bisavô Hygino Sobreira Rolim, tinha seu método, e ainda guardava por escrito todos os dias como tinha sido a precipitação em Cajazeiras. “sem chuva”, Pequena precipitação, chuva forte à noite e assim foi durante quase toda a sua vida. Infelizmente seus sucessores (entre eles, eu) não tiveram o cuidado de guardar esse registro historicamente tão valioso para nossa cidade.

Até hoje, e no meu tempo, as chuvas durante o dia eram uma festa. Haviam os famosos “banhos de chuva”, e eu me deleitava com a famosa biqueira da Matriz, que de tanta água, e com sua altura, chegava a doer nas nossas cabeças.

Mas toda essa cultura tão rica, reconheço, tem uma coisa que a impulsiona, que não depende de nenhum dos habitantes desse nosso sertão. Existe uma presivibilidade: depende de dezenas ou mesmo de centenas de variáveis que nós não podemos ter o controle, por mais que peçamos ao sobrenatural, e por mais que façamos promessas a São Pedro, a Iansã, a Zeus e seus raios, a Thor e seu martelo mágico, ou mesmo para os aficionados do satanismo, ao próprio demônio, uma seca sempre vai chegar. Os portugueses já no século XVI, registraram esse fenômeno, e os recentes estudos. Indicam que esses irregularidades nas precipitações são milenares.

Existem algumas coisas que podemos afirmar com certeza que influem nesse regime irregular de chuvas: a Cordilheira dos Andes, a temperatura do Oceano Pacífico, o Planalto da Borborema, que impede que as chuvas do Oceano Atlântico cheguem ao Sertão e os ciclos solares, que esses são extremamente imprevisíveis mas que determinados estudos estimam que durem aproximadamente treze anos e meio. Tudo isso é tão previsível como a previsão de um furacão ou de um tornado, que os americanos também não conseguem prever.

Então, nos resta, como pobres mortais que somos, tomarmos as medidas que nos cabe, nos precaver para a chegada desses períodos. Fazendo os açudes, perfurando poços, e utilizando a água nos anos chuvosos com a parcimônia de José explicitada no Velho Testamento, com a ajuda da tecnologia que temos a nossa disposição.

Em Cajazeiras por exemplo, sabemos que ela se situa num leito cristalino, composto por granito e basalto, mas que tem suas fraturas, e nessas, grande parte das águas forma aquíferos, e também sabemos que toda a terra está mapeada há muito tempo, se pode saber exatamente onde se situam essas fraturas.  Cajazeiras já recebeu da fundação Banco do Brasil uma perfuratriz de poços, mas foi utilizada apenas para se perfurarem poços de apadrinhados de determinados “protegidos”, quando eu falei sobre esse mapeamento, as mentes iluminadas de nossa cidade me ignoraram solenemente, até que se furtaram peças importantes dessa perfuratriz, que não puderam serem repostas, nem houve uma iniciativa da parte dos gestores de então para isso..

No deserto do Saara, quando o poço de um vilarejo se acaba, existe um serviço que com o auxílio desse sistema, loca e perfura outro poço e os habitantes se mudam para o novo lugar. Se lá que não chove, funciona, aqui, somente não funciona por causa da má gestão que fica a acreditar em “achadores de poços” e outras coisas não científicas. Além de negacionistas, fanatizados por empirismos há muito superados.

Moisés, Jacó e Padre Cícero já não existem mais. É tempo de darmos a vez para a ciência e acabarmos com essa fé na ocorrência do impossível. Ressureição, Jesus levou a fórmula quando subiu aos céus.

É hora de acreditarmos na ciência e chegarmos no século XX, pelo menos.

João Pessoa, 30 de Janeiro de 2024.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Saulo Péricles

Saulo Péricles

Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira (Pepe): Engenheiro Mecânico, especializado em engenharia de segurança do trabalho, Advogado, Perito em segurança do Trabalho e Assessoria Jurídica, membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.

Contato: pepepires17@gmail.com
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Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira (Pepe): Engenheiro Mecânico, especializado em engenharia de segurança do trabalho, Advogado, Perito em segurança do Trabalho e Assessoria Jurídica, membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.

Contato: pepepires17@gmail.com

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