Gobira: objeto de desejo
Justo na hora de apertar as teclas da urna eletrônica, ela esqueceu o número do seu candidato. E agora? Não quero perder o voto nem anular nem votar em branco, pensou. E sem pestanejar, digitou 5000. Mais tarde me perguntou, sabe em quem votei? Em Gobira! Esqueci o número do padre e só me veio à cabeça o 5000, de tanto ouvir as pessoas falarem aqui em Cajazeiras, ela me disse, rindo à toa na conversa pelo telefone.
O fato é rigorosamente verdadeiro. Deixo apenas de revelar o nome da protagonista para não constrangê-la. O padre Luiz Couto não dependeu desse voto para retornar a Brasília. Felizmente. Faço o registro
para realçar o óbvio: Gobira 5000 impregnou-se na mente das pessoas. Por isso deve ser tratado como fenômeno. Fenômeno eleitoral, medido pelos 48.157 votos, dos quais 19.037 no município de Cajazeiras, ou seja, 61,5% dos votos válidos para deputado federal! Nenhum outro candidato chegou perto. O segundo colocado, Efraim Filho (3.236), e o terceiro, Wellington Roberto (1.315) perderam-se na sola dos sapatos consertados por Luiz Antonio Lúcio Rangel.
Como surgiu esse fenômeno? O começo de tudo foi a filiação ao PSOL para ser candidato a deputado federal. Se Gobira tivesse baixado a bola para estadual teria minguada grosa de votos… A sacada foi entrar no vácuo do candidato a deputado federal, um parlamentar distante do eleitor, que não se relaciona com a comunidade, salvo, unilateralmente, quando dá entrevistas pagas às emissoras de rádio. Não vive os problemas locais. E só aparece às vésperas da eleição para misteriosos encontros à porta fechada, em negócios escusos à margem das normas eleitorais. E os órgãos fiscalizadores? Como sempre, incapazes de coibir a prática nociva da venda do voto, apesar da ampla divulgação patrocinada pela Justiça Eleitoral.
Mas e o início da onda Gobira? Penso que Zé Lezin é responsável pelo despertar do eleitor, ao assumir Gobira como seu candidato. Daí a espalhar-se em redes sociais foi um pulo. A onda foi crescendo, crescendo, a figura simpática do sapateiro tornou-se mais leve quando aparecia em vestes exóticas, com gestos, fala e jeito folclóricos a desfilar pelas ruas de Cajazeiras, a mídia repercutindo. A onda assim criada virou protesto. Pronto, eis a justificativa para a escolha de quem é despreparado para tão alto cargo parlamentar.
Gobira logo atraiu oportunistas de todos os matizes, a pegar carona no “movimento de protesto” contra o voto mercadejado, em especial por vereadores e prefeitos, useiros e vezeiros em apropriarem-se do voto popular para uso particular… Motivações não faltaram aos “apoiadores” de Gobira. A partir daí, entrou grana para ajudar a mobilização e a própria mobilidade do candidato que, na reta final da campanha, parecia um rei, tratado a pão de ló, carro à disposição, santinho, poemas. Músicas e mensagens de apoio inundaram as redes sociais. Tudo isso, despertou ciúmes intramuros numa disputa surda, cada grupelho açodado para anunciar mais tarde, “ele é meu, Gobira é meu e ninguém toma”. A essa altura, o modesto sapateiro já se transformara numa atração política regional.
E mais que isso, em objeto de desejo de gregos e troianos. Quem sabe, um Cavalo de Troia para ser posto em hostes inimigas, no momento próprio, talvez, na eleição municipal de 2016. Quando nada para servir de moeda de troca em negócios tão escusos quanto àqueles que estariam na base do protesto representado pela candidatura de Gobira: a compra e venda de voto.
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