Filhos para o mundo
Por José Antonio
Minha mãe, Mãezinha Albuquerque, a cada filho que saia de casa para estudar em outras cidades, ficava preocupada e angustiada, ao contrário de meu pai, Arcanjo Albuquerque, que a mandava se aquietar e a consolava com a expressão: “filhos, a gente cria para o mundo”.
Dos nove filhos, apenas minha irmã Linda, não migrou para outros centros em busca de estudos, porque se casou com a idade de 16 anos, mas os outros, a partir de mim, que numa madrugada chuvosa do mês de março de 1964, meu pai me colocava dentro de um ônibus rumo à cidade de João Pessoa, com o objetivo de fazer o curso colegial, já que em Cajazeiras ainda não havia sido criado. De João Pessoa fui embora, sem comunicar aos meus pais, para a cidade de Recife, onde conclui o Ensino Médio no Colégio Carneiro Leão e dois cursos superiores: Licenciatura em História, na Universidade Católica e Bacharelado em Ciências Sociais, na Universidade Federal de Pernambuco.
Da Pensão de Dona Lica, na Rua da Imperatriz, um velho pardieiro, onde morei sozinho, passando pela Praça Maciel Pinheiro, no Bairro da Boa Vista, no centro do Recife, já estavam na minha companhia duas irmãs; depois fomos morar num apartamento alugado na Rua Dom Carlos Coelho, no Edifício Carmem, num segundo andar, sem elevador.
Quando conclui o meu curso superior, em 1970, todos os meus irmãos já estavam encaminhados nos estudos da capital pernambucana: Francineide fazia Direito, Lúcia e Socorro cursavam Psicologia (o objetivo aqui era cuidar dos doidos da família), Neide e Aparecida faziam Medicina, Arcanjo Filho fazia Veterinária e Sales cursava agronomia, mas terminou abandonando-o e fazendo Direito. Todos passaram pelo apartamento da Dom Carlos Coelho, comprado por meu pai, que até recentemente serviu de morada de muitos netos, que sob o abrigo deste saudoso local, muitos se formaram nos mais diversos cursos, desde odontologia, engenharia, veterinária, medicina e direito.
Mesmo distante de suas raízes, o ponto de encontro era a sombra frondosa da casa de Seu Arcanjo e Dona Mãezinha, que durante anos, eram “obrigados” a viajarem para o Recife para assistir a formatura, primeiro dos oito filhos, depois de muitos netos. Cajazeiras sempre foi o amor maior de todos nós.
Hoje, dos nove filhos de Seu Arcanjo e Dona Mãezinha, quatro moram em Cajazeiras, uma em João Pessoa, outro no Recife e três em Brasília. O ponto de encontro de todos: Cajazeiras, mas depois do falecimento de meus pais, os célebres momentos de final de ano, Natal e nos natalícios de meus pais, praticamente acabaram-se.
Como primogênito sinto muita saudade de todos os meus irmãos que moram longe e fica aquele desejo de conhecer melhor e conviver com meus sobrinhos. Como eu gostaria de ver e abraçar os netos de meus irmãos, que já perdi a conta de quantos são, de abraçar os meus cunhados, saber de suas vidas e me alegrar com o sucesso de cada um.
Fiquei surpreso, outro dia, com o tamanho do neto de Sales, o João, que já está mais alto do que o avô e muito alegre com a beleza das bisnetas de meus pais: todas são encantadoras. Mais feliz ainda fico em saber do desempenho desta turminha na escola e muito contente com os sobrinhos que estão defendendo teses de doutorado pelo mundo afora. Que felicidade! As sementes plantadas por meus pais, que sempre apostaram que é através da educação que o homem se torna livre e que a maior herança que poderiam deixar pra todos nós era o conhecimento, felizmente eles alcançaram esta meta: todos se formaram e os netos já estão na mesma caminhada.
Quem sabe, depois da pandemia, voltaremos nos encontrar?
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário